As horas em terno ofício emolduraram
Essa face gentil onde o olhar se demora
Hão-de ser as tiranas de si mesmas, as horas,
Como da fealdade que a perfeição supera.
Pois não repousa o Tempo, antes guia o Verão
Ao temível Inverno, para aí lograr;
A seiva enregelada, as folhas sem fulgor,
Soterrada a beleza, e em vez, desolação.
Assim, não fora a essência do Verão conservada,
Líquida prisioneira entre vítreas paredes,
O fruto da beleza por ela era roubado
E nem memória havia de beleza que fosse.
Mas a flor, no Inverno, perde só a aparência,
Sobrevivendo, doce, o que lhe deu substância.
William Shakespeare, “31 Sonetos”, Tradução de Ana Luísa Amaral, Relógio D´Água.
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