Se eu fosse pintor passava a minha vida a pintar o pôr do sol à
beira-mar. Fazia cem telas todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um
espectáculo extraordinário.´
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos,
quando as nuvens tomam todo o horizonte com um ar de ameaça, e outros dourados
e verdes, com o crescente fino da lua no alto e do lado oposto a montanha
enegrecida e compacta. Tardes violetas, neste ar tão carregado de salitre que
torna a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os
alicerces dos velhos fortes abandonados.
Raul Brandão, Os Pescadores.
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