“A ilha poderá ser, antes de
mais, esse espaço de estar (e “estar” é muito mais verbo para ilhéu do que “viver”,
escreveu Nemésio) e onde se assiste ao fluir do tempo dissolvendo contornos e
arestas. Espaço demasiado próximo o corpo, dorido e doloroso também,
confrangedor e paradoxal nos horizontes ilimitados que deixa antever sem
realizar, daí o confronto que na escrita se encena entre o efémero, a finitude
da ilha e o Absoluto como miragem do desejo, daí também esse jogo entre o perto
e o longe, o concreto e o inatingível, que em Rui Duarte Rodrigues, por
exemplo, deixa o inevitável rasto de uma subtil melancolia.”
Urbano Bettencourt in “Dos
Açores e da sua literatura: errância e permanência”, pp.64-70, Lisboa,
edições Salamandra, col. Garajau, 1999).
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