“Sem qualquer excepção, homens e mulheres de todas as idades, de todas
as culturas, de todos os graus de instrução e de todos os níveis económicos têm
emoções, estão atentos às emoções dos outros, cultivam passatempos que
manipulam as suas próprias emoções, e governam as suas vidas, em grande parte,
pela procura de uma emoção, a felicidade, e pelo evitar de emoções
desagradáveis. À primeira vista, não existe nada de caracteristicamente humano
nas emoções, uma vez que é bem claro que os animais também têm emoções. No
entanto, há qualquer coisa de muito característico no modo como as emoções
estão ligadas às ideias, aos valores, aos princípios e aos juízos complexos que
só os seres humanos podem ter, sendo nessa ligação que reside a nossa ideia bem
legítima de que a emoção humana é especial. A emoção humana não se reduz ao
prazer sexual ou ao pavor aos répteis. Tem a ver, igualmente, com o horror de
testemunhar o sofrimento e com a satisfação de ver cumprida a justiça; ou o
nosso deleite face ao sorriso sensual de Jeanne Moreau ou à densa beleza das
palavras e ideias da poesia de Shakespeare (…) A emoção humana pode até ser
desencadeada pela música barata ou pelo cinema de má qualidade cujos poderes
não podem ser subestimados.”
António Damásio in “Sentimento de Si”
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