recortas em arestas de voz
o ar salgado da manhã
e embalas nas mãos a acidez do sol
a vida transpira-se de calor
em seus contornos de fumo e de fogo
moldando dentro de si
o domínio dos impérios de dor
ouve - o silêncio segrega-te para fora
da bruma das freguesias seguras
procuras o rosto sonolento dum salvador
tu és uma casa assaltada - não tenhas dúvidas
todos os gestos esculpidos da brisa te arrombaram
não há utilidade em conhecer palavras
tua boca move-se com a lentidão das portas à noite
ou com a monotonia do lume que te paseia nos olhos
continuas a procurar
as sílabas que te levem ao derreter dos versos
ou ao presságio da saliva dos espelhos
recolhamos este momento:
somos os filhos dos vasos sanguíneos
nos gritos perpétuos das pétalas
Leonardo Sousa in "Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida", Letras Lavadas edições, 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário