O amor não tem tempo
para a traição
Diz tens a palavra não tenhas
medo deste
pequeno monstro
teu par. O
que para ele foi feito
Há muito
acabou a esperança
está na
ponta do cigarro que se esfuma
diz vem cá a
tua mão cabe
na sua ela
sabe adaptar-se
e pode
guardar até ao dia
que a
largares o que quiseres
diz chora ao
leito todo o seu corpo
A tristeza a
vergonha da morte.
Ele vai
estar só aí só à quarta parte
e de novo
volta. Sempre.
Mas diz que
do silêncio
dele e dos
outros
já está
cansado.
A Infância que não foi tua
Mundo de
aventuras
de leituras
desenfreadas
em luta
contra o tédio
das doenças
de cama
na segunda
infância
essa em que
a imaginação
se torna o
vulcão de toda a solidão
não foram
amigos teus os cavaleiros
da távola da
triste figura (catorze anos
separam a
mudança das feições como hoje
tantas vezes
a boca da gôndola
se arqueia
no teu rosto de lua cheia).
Nada disso
foi teu:
tiro aos
pássaros
saqueamentos
a árvores de fruto
mergulhos
suicidas de rochas
ou de
chaminés de barcos
destroçados.
o medo e o amor
sempre te
impediram os altos voos
de Ícaro. não
és melhor
nem pior
pessoa por falta
dessas
memórias e não choras
pela
infância que não foi tua
uma história saturada
de mortos
eu agora
trinta anos fumo bebo
rodeado de
toda a tecnologia do homem
assusto-me
com um grito de uma perdiz
ali fora na
seara alentejana. Insones
os pássaros
cantam pelas noites e dias
e choro
neste verso
avesso por um verso
um filho
qualquer que seja o seu sexo
mas não aqui
connosco nós
não temos
senão a morte
ao deitar
Fernando Machado Silva,
in “Passageiros Clandestinos”, Companhia das Ilhas (2012)
obrigado por difundir estes poemas. um abraço e bom ano.
ResponderEliminarfernando machado silva