“(…) mas estamos tão pouco
onde estamos”
José Tolentino Mendonça
Foi inesperado e surpreendente aviso de poeta, pensei. Mas que havia
de visitar um dia os Mosteiros, a vera ilha. E numa circunflexa e solarenga
manhã de Janeiro cumpriu-se a visita a tão recôndita povoação. A negrura e o
recorte dos Ilhéus e um céu pintado de azul claro mais o branco da espuma
compõe a veracidade de tão magnífico lugar. O motor e o barulho das vagas na
invernia e a proximidade das nuvens solidificam o cenário de um
adormecido porto e com ele os seus barcos à espera que da bonança se possam aproveitar um
dia – um dos "boca aberta" tinha a denominação de Aristóteles – e
a visão daquele rochedo com o desenho de uma casa abandonada, a lembrar o Ilhéu das Cabras (agora percebo, amigo
Rui), o sol de oiro ali derramado a lembrar a tua Terceira, a neblina que cai sobre
as águas límpidas e cristalinas, como se tivessem a mesma forma das rochas dos Biscoitos e a certeza de um tempo e inspiração que a qualquer momento retomem o seu curso, ainda que sem máquina fotográfica e apenas um bloco de apontamentos.
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