Quantos
mares extasiados
lentos e
sussurrantes ardem
na lagoa do
meu peito a pedir água
para a sede
vulcânica dos teus olhos!
A alma
errante pelos becos da ribeira
alonga-se na
mansidão do fogo
a cada fluir
da névoa
repartida na nostalgia de uma saudade
ou na
certeza das aluviões tranquilas
a mergulhar
no crepúsculo em agonia.
Uma sucessão
de sonos encalhados na furna
resiste ao
encalhar das ondas e vai
modulando o
ilhéu migrador
dos últimos devaneios calados
na memória.
Américo
Teixeira Moreira
RECUSA
a Alberto de Serpa
Serei sempre
um poeta provinciano.
Um poeta triste, esquivo,
Com medo de apertar a mão aos poetas da cidade
E de me sentar com eles
À mesa do Café.
Não falarei
de minha poesia.
Não rimarei
minha angústia
Com a
solenidade de suas questões.
A poesia não
está na discussão.
A poesia não
está no não estar com este ou com aquele.
A poesia
está em matar esta morte
Que anda dentro de nós
Para que a
vida renasça.
A poesia
está em gritar do alto dos arranha-céus
E das
planuras e concavidades sertanejas
Que o mundo
vai acabar
Que o mundo
está maduro para o sangue
Que o mundo
perverso e caótico vai vagar.
Serei sempre um poeta provinciano.
Um poeta
esquivo defendendo sua solidão
De todos os
truques de todos os ódios de todas as invejas.
Os poetas
rendilheiros não perdoarão.
Os poetas
vaidosos vão barafustar
E exigir a expulsão imediata
Do último
vendilhão do Templo,
Em nome da
religião,
Em nome da
estética,
Em nome da
dignidade amarfanhada,
Em nome da
polícia se preciso for.
Serei sempre
um poeta provinciano.
Um poeta esquivo anunciando a verdade
A repassar
de gelo os corações narcotizados.
Os poetas
rendilheiros não perdoarão.
Os poetas
vaidosos vão barafustar,
Porque o fim
do mundo está próximo.
Os poetas
rendilheiros e os poetas vaidosos estão maduros para o sangue.
Já estão cevados para a morte.
Eles
esquecem (perdão, não é blasfémia!) a sentença do Cristo:
— «Destruí
este Templo e eu o reedificarei em três dias.»
Vasco Miranda (de A Vida Suspensa,
1953)
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