na ilha Terceira nasce o branco movimento do céu
o cinzento é curto, passageiro
por causa dos olhos dos homens
na ilha Terceira há homens de olhos azuis à nossa espera
homens pacientes de uma imaginação gigante
porque estão habituados a ver pessoas partir
homens inteiros lânguidos fitando o Atlântico
recebem-nos em júbilo sem nos perguntarem o nome
ensinam-nos que o nome é o último indício da alma
e que o mar todos os dias rega o olhar de azul
dizem isto e mergulham, desaparecem na noite líquida
por entre marés vivas como se não doessem
a dor, o sorriso inesgotável que estes homens provocam
dura muitas ilhas e enraíza-se muito depressa
eu parto e crescem-me hortênsias nas pupilas,
hei-de regá-las obsessivamente de azul
quando a falta que eles me fazem descorar
na ilha Terceira a última coisa que morre é o olhar
morre primeiro a esperança, o dia, a vida, só depois o olhar
Dulce Cruz
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