As nossas
organizações sociais, no entanto, ainda existem rótulos, requerem catálogos e
estes tornam-se inevitavelmente, hierarquias e sistemas de classe em que alguns
assumem o poder e outros ficam excluídos. Toda a biblioteca tem a sua sombra:
as infindáveis estantes de livros que ninguém escolheu, que ninguém leu, livros
rejeitados, esquecidos, proibidos. E, no entanto, a exclusão de qualquer
assunto da literatura, quer por arbítrio do leitor quer do escritor, é uma
forma de censura inadmissível que degrada a humanidade de todos. Os grupos
ostracizados pelo preconceito podem ser, e geralmente são, postos de parte, mas
não para sempre. A injustiça, como já devíamos ter aprendido, tem um efeito
curioso nas vozes das pessoas. Empresta-lhes potência e clareza, recursos e
originalidade, que são todas elas boas coisas para se ter, se o que se pretende
dor a criação de uma literatura.
in "No Bosque do Espelho", Alberto Manguel, Tinta da China, 2013.
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