quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sobre “Espelhos Naturais” de António Garcia Guerreiro

     
Exposição na Biblioteca e Arquivo de Ponta Delgada
   António Garcia Guerreiro apresenta um conjunto de fotografias à volta do arquipélago açoriano intitulado “Espelhos Naturais”. O visitante desta curiosa exposição, patente num pequeno compartimento da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada até Janeiro do próximo ano, poderá ser surpreendido com fotografias facilmente reconhecíveis - são fotografias realizadas em quase todas as ilhas açorianas - mas expostas de forma singular e estimulante aos nossos olhos, exigindo tempo e compreensão à nossa experiência sensorial.


     As fotografias de “Espelhos Naturais” revelam assim um fotógrafo sensível, fascinado pelos cambiantes da paisagem e entusiasmado pela policromia da natureza das ilhas atlânticas. Neste jogo implícito de luz e contrastes, já que são fotografias que usam e abusam do reflexo da água, o jovem fotógrafo – sim, esta é a sua primeira exposição!!! – apresenta imagens de cima para baixo, fazendo-as rodar os 180 graus, tendo por objectivo propor e revelar novos detalhes ou outros efeitos pretendidos, abarcando desta feita as dicotomias: real/irreal, céu/terra, vida/sonho. Relembrando ainda um literato argentino, Alberto Manguel, este escreveu em “No Bosque do Espelho”: “Somos criaturas arrumadas. Desconfiamos do caos. As experiências chegam-nos sem um sistema reconhecível, sem qualquer razão inteligível, com uma generosidade livre e cega. E, no entanto, perante todas as provas em contrário, acreditamos na lei e na ordem.” António Garcia Guerreiro contraria em “Espelhos Naturais” essa mesma lei e ordem, propondo deste modo um presente para os nossos sentidos, arriscando-se assim a encontrar beleza no caos e na miríade de reflexos e estímulos que a natureza em redor nos proporciona. Afinal, o belo pode ser caótico e desordenado, e, para que isso aconteça, basta estar aberto e, com absoluta clareza, atento.  

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