sábado, 9 de janeiro de 2016

Seis Poemas na Ilha de São Miguel

1- Clínica da Alma
a Alberto Manguel
Os egípcios avivaram com cuidado,
no mistério revelado, agradecidos,
antes de qualquer roubo ou guerra
sem ruína de outra sobrevivência
dicionários, livros e compêndios
perenes depositantes de memórias
Desse lugar infinito agora observamos
o secreto abecedário das estantes
em geografia de línguas alcandoradas
e nas remediadas doenças do presente
as perguntas inquietas por fazer

2-Da Caloura, as pedras

Trazem com elas o tom e o silêncio
delicadas brechas, destroços vários,
líquidas vozes desavindas
aspiramos ondas e demais histórias
Modelamos nuvens, entoamos metáforas
a fúngica bruma patenteada
nos lábios e nos dentes
e na tardinha tudo abafamos
com o marítimo som das evidências.

3- Queijadas de Papoila e Chá Verde

Houve vagas silenciosas em crescendo
e momentâneos enganos
Talvez possamos inventar um paradoxo
folhas frescas em verdes águas
No céu o paladar bem destilado
e o boca a boca reencontrado
caem grainhas da incerteza
à lenta paz dos órgãos
a virtude dos passos dados.

4-Momentâneos Empenhos

Professar ao vento a inspiração
declarar instantâneos empenhos
essa súbita vontade fulgurante
a impressão do tempo que passa
nas linhas ditadas e coser
os múltiplos desafios do devir
decididos incitamos a potência
num traçado augúrio preferido.

5-Tácita Recusa

Uma tácita recusa dos dias frios
como horas no tempo crepitam
dão o corte e o contraste
à erosão dos desvios consumados
rumor implícito nos gestos
uma vaga cobertura de promessas
na união sobejamente anunciada.

6-Vadia Epopeia

Consumamos um velho vício
mortiço fado espelhado na madeira
A luz nocturna sobre a mesa, 
condição, desolação, desarrumado
como uma seda fina a laborar
enfrentar essa suprema ilusão
confiança de ouro na tomada e
no brilho
exaltação dos ombros na partida. 

Sem comentários:

Enviar um comentário