Amigo Janeiro Alves,
Estranhamente hoje acordei com o refrão de “Voyage,
Voyage”, dos Desireless, e dei por mim com chuveiro junto da boca a cantar: “Plus loin que la nuit et le jour,/(voyage
voyage)Voyage (voyage)/ Dans l'espace inouï de l'amour./ Voyage, voyage/ Sur
l'eau sacrée d'un fleuve indien,/ (voyage voyage)Voyage (voyage)/Et jamais ne
revient”, um tema pertencente à dupla Rivat e Dubois. E, é verdade,
lembrei-me de si, o meu magnífico viajante Janeiro Alves, amante do norte,
ainda que sempre envolvido em grandes mariscadas, já para não dizer
“suomices”.
Aceitei, portanto, de bom grado a embalagem de
filetes de peixe que me enviou do norte europeu. Adorei, adorei, adorei.
Sinceramente não me custou interceder perante o embaixador dada as circunstâncias
em que o meu amigo se encontrava e a sua necessidade urgente de anonimato bem
como essa sua inusitada vontade de emanar divagações de bolso. No entanto,
deixe que lhe diga que o amigo Janeiro deveria fazer um retiro por aqui, mais
concretamente no conhecido “Cu de Judas”, longe de qualquer avistamento ou proximidade
humana. O que me diz sobre isso?
Escrevo-lhe também para dizer que atravesso um
momento crucial da minha existência pois decidi fazer um périplo por diversas
universidades e centros do conhecimento com o intuito de proferir a seguinte
conferência: “O Fim do Trabalho: Um Futuro de Ouro?” e em que pretendo elucidar
a sociedade em geral sobre o que irá surgir depois do trabalho, tal e qual o
conhecemos. O meu amigo bem sabe que as máquinas produzem muito mais e em pouco tempo, não
parando de produzir desempregados. É urgente, à laia do que escreveu o Paul
Lafargue, em “Le Droit de La Paresse” (O Direito à Preguiça), corria o ano de
1883, reclamar de baixo para cima: “E os
filantropos da indústria continuam a aproveitar as crises de desemprego para
fabricar mais barato.” É tempo de abandonarmos o trabalho como
obrigação/dever e voltarmos a defender o trabalho enquanto livre escolha de
fazermos o que gostamos e queremos. Não concorda, meu caro amigo?
Aproveito também, agora que sei que voltou ao seu
tugúrio no Estoril, para lhe augurar um “Soft Power Relaxante”, enquanto bebo
por aqui o poderoso néctar das montanhas de Kowatunturi que o meu amigo colocou
no pacote. E agora vou ao correio pagar a sua encomenda, a amizade longínqua com
o meu amigo Janeiro fica sempre mais cara que as demais.
Ampexo com estima,
Doutor
Mara
Sem comentários:
Enviar um comentário