Uma ideia de um quarteirão citadino formado por
quatro ruas - D`agoa, Pedro Homem, Carvalho Araújo e Guilherme Poças Falcão - relevantes do centro histórico de Ponta Delgada, caracterizado pelos
limites do seu casario à escala humana, ainda por cima concentrando dentro de si locais
de memória e do saber, tais como espaços museológicos, biblioteca e arquivo municipal, só poderá
suscitar em nós curiosidade sobre o que se irá passar a seguir. Desta forma, se
verificarmos que já existem galerias de arte, lojas de roupa, um jardim, um
restaurante vegetariano, cafés, bares, hostels para diferentes gostos, vários
supermercados, dentista, farmácia e cabeleireiro, tudo leva a crer que essa
mesma ideia tem tudo para se desenvolver e sedimentar.
Senão, vejamos, nos últimos anos verificarmos que
uma boa parte das cidades portuguesas foi surpreendida por um turismo aos
magotes trazido pelas companhias de baixo custo e, em certa medida, pelo forte
travão que a crise financeira imprimiu à construção civil e à especulação
imobiliária, obrigando a uma reflexão séria dos poderes públicos sobre a
desertificação dos centros históricos e a fraca densidade populacional daí
decorrente. À medida que outros lugares habitacionais deram espaço a novas
centralidades, os ditos centros históricos foram ficando degradados,
negligenciados e sem influência perante outras forças económicas que emergiram
em seu redor, condenando estes espaços a uma existência exânime, visitados somente
pelo turismo apressado, sem qualquer vida dentro. O que fazer? Em primeiro lugar,
perceber a dimensão e gravidade deste problema, compreender a origem e razões desse
abandono, bem como o consequente desinteresse das populações pela vida nesses
antigos locais, tentando captar e atrair de novo o pequeno comércio, fomentando
a economia social e assumir a recuperação e requalificação arquitectónica entre
mãos. Os arquitectos, no actual contexto deficitário e criativo da sua profissão,
podem ser eles próprios os incentivadores e agitadores dessa renovação
necessária. Como? Ao apresentarem, eles próprios, soluções e propostas aos
donos de casas abandonadas ou degradadas, propondo e discutindo soluções
estéticas que visem dignificar o conjunto e o casario deste quarteirão. A
partir desse momento, podem e devem contar com os poderes públicos, também eles
na vanguarda do interesse da revitalização do seu centro histórico.
Se entendermos que uma cidade são as pessoas que lá
vivem, os seus anseios e desejos, ainda o seu conjunto edificado e alargado de
habitações, monumentos, igrejas, uma ideia de “quarteirão” no centro histórico
de Ponta Delgada, parece-nos, sinceramente, uma ideia com asas e com energia
para voar. É que quando olhamos em volta e vemos que estas ruas repletas de
história, únicas pela sua arquitectura ao longo dos séculos, é fácil de
constatar que poderão vir a ser novamente pólos de vida, trabalho e criatividade.
Basta querer. Devemos, portanto, reflectir sobre o que queremos deste
quarteirão e de que modo todos possamos granjear o céu e boa aventurança.
Assim, teremos “Quarteirão”, certamente.
Very good. Pode-se partilhar na página d' O quarteirão?
ResponderEliminarEntão, vamo-nos encontrar para discutir o argumento que já tens pra o filme?
E outras reflexões surgirão certamente...prossigamos o périplo.
ResponderEliminarAbraçada do Doutor.