Fotografia de Carlos Olyveira |
O verão ainda não atingiu o seu pico de calor e no
entanto por aqui a chuva alivia o capacete e a humidade. A temperatura, é um
facto, melhora sempre que chove. Encontramo-nos a ensaiar durante o período do
Festival de Arte Urbana – Walk and Talk e a ilha está, por instantes, radiosa.
É um privilégio este cair da tarde dourado em Santa Clara, a despedida da luz
do dia e a lua a encher-se, as nuvens espalhadas ao comprido cobrindo o azul do
céu. No interior da Galeria Arco 8 encontra-se uma instalação intitulada de “O
Portal”, de Nuno Paiva, um trabalho de espelhos em forma de hexágono
articuladas entre si em forma de reflexo e que já esteve no ano passado na baía
de Ponta Delgada.
Os sinos repicam na Igreja de Santa Clara e, após
exercícios de relaxamento e voz, retomamos o ensaio e a leitura de texto
corrido. Insistimos nessa vontade comum de encontrar o tom geral do texto, daí
o reforço neste trabalho de encenação colectiva e adaptação do texto às
circunstâncias. É assim que a personagem da Rapariga Aluada abandona os olhos de amêndoa no texto para se fixar
nesse azul vítreo da actriz em causa: “Eu
quero é correr mundo…Tantas coisas a acontecer lá fora, tantas coisas, e aqui
estou eu enfiada dentro de quatro paredes, nos meus dezassete anos de vida,
pois tudo isto me parece tão pouco, com estes meus olhos azuis, com esta minha camisa às flores, o meu cabelo feito ondas e
uma vontade indómita de querer viver. Eu quero é correr mundo…”. Por agora,
fixamo-nos nesta casa provisória e daqui só sairemos com o sinal de dever
cumprido. Julho entra na recta final e temos que arrepiar caminho, por isso
conviria que os dias açorianos continuassem assim...frescos e amenos.
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