segunda-feira, 25 de julho de 2016

Tu Podias Viajar Comigo na Noite

Tu podias viajar comigo na noite
ver como se propaga o ar
não se pode negar a indiferença
enfiaram-te o amor na cabeça
os filmes, os livros e os poemas que leste
agora vai-te embora com as grafonolas
desampara a loja dos fantasmas da infância
e não voltes desconfiado
o gelo não se parte,
solidifica ainda mais
conserva-se para a eternidade
um coração despedaçado não sobrevive
fica desarmado com tanta frieza

Hás-de saber guardar para ti o medo e o cuidado
a leveza com que desapareces da fotografia
não sei muito bem onde aprendeste esse orgulho
esse pequeno ritual do desprendimento
vale o que vale a saúde e desatinas
uma casa em ruínas e o desapego
quando sofres devagar e logo adormeces

Repetes o frente a frente
sem nada conseguir expressar
madrugada adentro
até deitar tudo a perder 
antes da alba nascer

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