Fotografia Carlos Olyveira |
Uma
peça pede sempre os seus actores, a sua história e o seu público! Agora que Sala de Embarque cumpriu o seu
desígnio das três apresentações previstas, conviria evocar Camus e o seu
optimismo, ainda que moderado. As três
apresentações de Sala de Embarque não poderiam ter corrido melhor, no entanto, convém
não exagerar nos festejos e foguetes. É claro que precisaríamos de um palco à
altura das 180 pessoas que nessas três noites estiveram presentes na Galeria Arco 8, é certo que necessitaríamos
de aprimorar ainda mais as marcações de pé e todos pudessem ver as expressões e
movimentos dos actores, é provável que o texto poderia ser encurtado ainda mais…enfim,
há sempre uma nódoa, por mais pequena que seja, que se poderá apontar. De
qualquer modo, quando a poeira assentar, deveríamos confessar que aquilo que
mais nos interessa nesta ideia de “Sala de Embarque” é o “processo”. Sim, todo
o processo de elaboração, construção e montagem de uma ideia teatral. Essa estirada
desmedida que é necessária até termos chegarmos ao dia da estreia na Galeria
Arco 8, que começa com a escolha do título e escrita do texto, os seus ensaios
diários e sistemáticos, passando pela concepção do cartaz e postal, até à
montagem do cenário e venda dos bilhetes. Voltando, assim, a Albert Camus para
partilhar a sua visão da vida e do mundo que tanto apaixona e entusiasma. Essa
concepção presente no seu livro “O Mito de Sísifo” que afirma que apesar de a
vida não ter qualquer intento, existe, no entanto, uma possibilidade de lhe
atribuir sentido, isto é, a de procurar satisfação no processo (quando a pedra
é transportada até ao cume) e não no objectivo final (quando a pedra cai e
rebola de novo e é necessário transportá-la de novo até ao cume). Quando é que
é a próxima viagem?
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