Fotografia de Carlos Olyveira |
Livros sobre a
mesa: “ensaios” e “dissertações” de contemporâneos curiosos e atentos ao que se passa em seu redor. Letras lidas por entre cafés e dois dedos de conversa, desse prazer da
leitura renovado e, talvez por isso, também acessível à(s) carteira(s). Neste “Movimento Perpétuo – História das
Migrações Portuguesas”, Ana Cristina Pereira acrescenta informação e dá achegas curiosas para esse retrato
infindável de um povo viajante em tão redundante constação: “Em
Portugal aprende-se depressa que as pessoas não são árvores. Não têm raízes
como os plátanos ou as tulipeiras. Aquilo a que se chama território nacional é
uma multiplicação de pontos de partida e de chegada. Há dez milhões de pessoas
dentro e 2,3 milhões de pessoas fora. Um mapa múndi que se desenha amiúde, por
força da necessidade feita vontade”. Será que é mesmo assim? Continuamos a ser empurrados
para fora, como se não houvesse alternativa? E, mesmo assim, há que continuar a
ler sobre o mar, ou então sobre os nossos pescadores, essa “raça” essencial de um povo, entender
porque fazemos parte deste processo misterioso de estar vivo, na esteira de Raul
Brandão. Escreve Filipa Melo, numa das páginas de “Os Últimos Marinheiros”: “Os tempos e os homens mudam, mas o fôlego cego e vivo do mar, não.
Percebemo-lo à proa, quando ainda no escuro o hálito salgadiço no envolve e o
vento, cúmplice, parece puxar-nos para dentro da boca vasta da água em volta.
Ali, na ponta do vante, no topo da proa, seguiam, nos navios antigos, as
carrancas e os leões da barca. Homens, mulheres, animais ou deuses, esculpidos
em madeira maciça, cravados pela cintura no navio. Cortavam com alento o bafo
salgado, como se desafiassem o desconhecido”. São leituras como estas que ajudam
a compreender esse mosaico de um país que sabemos ainda por desvendar. Precisaríamos
de saber ainda muito mais sobre a comunidade cultural e histórica onde vivemos.
Estes livrinhos soltos, desempoeirados, pequenos fragmentos sobre o estado das coisas trazem a chancela da Fundação
Francisco Manuel dos Santos. Ainda bem, agradecidos pela leitura e pela beleza
de nos sabermos atentos e, por sinal, bem vivos.
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