Nunca ninguém parte
completamente, porque partir nunca é, na verdade, ir sem deixar absolutamente
nada para trás. As motivações para qualquer
partida acontecem sempre tendo um ponto em comum: o da mudança. Acreditando-se
poder chegar a um lugar melhor. Um sonho imaginado de um provável destino
desconhecido. São quatro as razões para a
partida de cada um dos personagens e que transformam esta Sala de Embarque numa
sala de espera. A acção acontece à volta da vontade que cada um tem para mudar a
sua vida e, embarcar no sonho impulsionado pelas motivações que o levou até ali.
Há uma vontade de partir explícita nos diálogos que vão acontecendo,
desvendando as estórias que existem em cada um dos quatro passageiros. Nestas conversas, vamos
entendendo que todos querem partir numa espécie de fuga da sua própria vida,
dos seus passados, dos pesadelos ou, apenas, fugir dos seus medos… Talvez até
fugir de si próprios e encontrar o verdadeiro Eu numa viagem qualquer, nem que
seja, tão só, na viagem da imaginação. Mas, o destino é sempre incerto,
porque, incerto é o destino e o medo do incerto pode ainda ser maior que todos
os medos já vividos. Neste encontro, há reencontros
com um passado que se deseja apagar, de uma
mudança que seja capaz de fazer desvanecer os fantasmas que teimam em estar
presentes. Partir é procurar algures um
destino que quebre memórias. Mas, será mesmo possível partir, esquecer ou
atenuar a perseguição dessas sombras? A indecisão de viajar fica-se
muitas vezes pelo sonho, porque o medo do incerto é aterrador! Desiste-se
ou adiam-se esperanças…Sala de Embarque poderá bem ser a
“sala de espera” de qualquer um de nós, com as nossas indecisões, com os medos
da mudança. Esperar é também esperança, a de se encontrar na sala de embarque
uma porta de partida. Mais do que um local de espera, Sala de Embarque é um
porto de abrigo onde são lançadas âncoras de fé.
Fernando Nunes escreveu quatro
histórias. Todas elas são diferentes
entrecruzam-se entre passado e futuro, em que cada um, pelas suas razões
pessoais, deseja partir para embarcar na fuga de si mesmo, para um qualquer
lugar imaginado e tido como “eventual” destino certo. Mas, entre o partir e o
ficar, há a espera…a indecisão.
Ao intenso trabalho, juntam-se os
talentos de: Henrique Santos, João Malaquias, Margarida Benevides e Joana
Marques que, com a sua criatividade, nos levam até à Sala de Embarque e nela
fazer-nos esperar até que a viagem aconteça. À composição musical de João Luís
Macedo vêm, também, juntar-se as cumplicidades de Lígia Soares, Ana Lúcia
Figueiredo, André Almeida, Diogo Fonseca, Carlos Oliveira, Júlia Garcia e
Miguel Caldas.
Sala de Embarque é um esforço
conjunto que muito merece o carinho de todos aqueles que procuram na arte e na
cultura uma forma de aprendizagem complementar e não formal. Por esta razão, embarque
e seja mais uma pessoa presente na Sala de Embarque.
José França
Sem comentários:
Enviar um comentário