"São três horas da tarde. No mar grandes chapadas de prata na esteira do sol, que no areal reverbera e ofusca. Julho. Nortada rija enchendo a boca de areia e salpicos de espuma amarga. Doirado e verde. O quadro é tão largo que se perdem as minúcias: concentro-me neste pedaço de areia de uns poucos de quilómetros afogado em luz e agitado de vida, no azul do céu e na onda que esconcha e estoira, repercutindo-se em som e espalhando-se em pó esverdeado. Reverberação de sol, poeira e água luminosa que vibra e estremece. Alarido de mulheres que saem aos cardumes dos palheiros. Içam-se os pendões, chamando mais gente para o peixe. Grupos, cordões humanos, gente das aldeias que acode à catraia. Um barco sai do alto da onda, outro regressa. - É agora! É agora!"
in Os Pescadores de Raul Brandão, 1924, edição Livrarias Ailaud e Bertrand Paris-Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário