Muitas
vezes te esperei, perdi a conta,
longas
manhãs te esperei tremendo
no
patamar dos olhos. Que me importa
que
batam à porta, façam chegar
jornais,
ou cartas, de amizade um pouco
—
tanto pó sobre os móveis tua ausência.
Se
não és tu, que me pode importar?
Alguém
bate, insiste através da madeira,
que
me importa que batam à porta,
a
solidão é uma espinha
insidiosamente
alojada na garganta.
Um
pássaro morto no jardim com neve.
Nada
me importa; mas tu enfim me importas.
Importa,
por exemplo, no sedoso
cabelo
poisar estes lábios aflitos.
Por
exemplo: destruir o silêncio.
Abrir
certas eclusas, chover em certos campos.
Importa
saber da importância
que
há na simplicidade final do amor.
Comunicar
esse amor. Fertilizá-lo.
«Que
me importa que batam à porta...»
Sair
de trás da própria porta, buscar
no
amor a reconciliação com o mundo.
Longas
manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda
bem que esperei longas manhãs
e
lhes perdi a conta, pois é como se
no
dia em que eu abrir a porta
do
teu amor tudo seja novo,
um
homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis
circunstâncias da vida.
Que
me importa, agora que me importas,
que
batam, se não és tu, à porta?
Fernando Assis Pacheco,
in “A Musa
Irregular”, Assírio
& Alvim, Novembro de 2006
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