Organizado
pela Galeria Arco 8, terminou na última quinta-feira um ciclo de cinema dedicado
a Miguel Gonçalves Mendes. Os seus documentários foram sendo exibidos ao longo
de três semanas deste recente mês de Setembro e sempre com entrada gratuita. O ciclo
começou com “Nada Tenho de Meu”, seguindo-se “Cruzeiro Seixas: Cartas do Rei
Artur” (aqui enquanto produtor), depois “Autografia” e, por fim, “José e
Pilar”. Estes dois últimos filmes apresentados e, que tiveram lugar na passada quarta e quinta-feira, contaram com a presença do realizador que acedeu conversar e acolher
perguntas duma vasta e interessada audiência que aproveitou a presença deste em território insular. Sendo assim, uma palavra de apreço e gratidão para o Pedro Bento, sempre
ele, a pontuar a chamada “actividade cultural alternativa do Outono”, marcando assim
a rentrée da ilha e anunciando a partida do estio de calendário, ainda que este tarde em arrefecer. Graças a ele, e à sua persistência, foi mais uma vez possível ver cinema de cariz documental e, essencialmente, instigante!
Registe-se,
assim, que todo o trabalho documental visa dar conta do objecto em questão e
aproximar esse mesmo objecto do público espectador. Estes filmes não só
aproximaram como também promoveram o pensamento sobre aquilo que somos e
andamos à procura. Comece-se pelo inquietante “Nada Tenho de Meu”, que nos
pareceu ser o trabalho mais complexo dado tratar-se de uma procura da
identidade individual e do real, sabendo de antemão que grande parte do que contamos sobre nós próprios há muito de inventado, ficcionado. Seguiu-se “Cruzeiro Seixas: Cartas do Rei Artur”,
documentário revelador de uma paixão entre essas duas figuras maiores do
surrealismo, amantes das pintura e das
letras, aqui revelado em registo epistolar e intimista. Nada que já não
tivéssemos sondando no visionamento de “Autografia”, apresentado algum tempo antes e ao que se sabe um retrato livre
e despojado da vida dum poeta maior da língua portuguesa, infelizmente já
desaparecido: Mário Cesariny. Neste documentário vemos a importância da
confiança e da liberdade discursiva criada entre quem filma e se deixa filmar. Por
último, o visionamento de “José e Pilar” que são três actos de amor em
conjunto, um olhar errante e exaustivo sobre uma relação a dois, o poder e a
força impressa no outro por quem sabe que só o amor nos leva pela estrada mais directa ao
coração. Sim, é verdade, aqui vemos um homem que escreve novelas e uma mulher
que se dedica a tomar conta da vida deles os dois. Uma experiência intensa, de
tão rica como imaginada, ao intuir o movimento realizado inicialmente até o sabermos, por fim, concluído.
No
final de todas as sessões, ficámos a saber que Miguel Gonçalves Mendes já
encerrou as filmagens do seu documentário, “O Sentido da Vida”, produzido por
Fernando Meirelles, encontrando-se agora em fase de montagem. As filmagens
duraram quatro anos e o filme foi rodado na Islândia, Brasil, Macau, tendo
começado em Vila do Conde. Assim o possamos rapidamente ver tal qual esperemos que seja mais uma razão para que, à semelhança dos sete ilustres convidados presentes na narrativa, o realizador possa continuar a dar a conhecer o seu trabalho e, assim, regressar ao arquipélago açoriano.
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