quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Hoje há quinta nocturna de poesia no Tascá.

Fotografia de Carlos Olyveira
“hoje, a noite de poesia não celebra nenhum aniversário e não comunica nenhuma sessão solene. ignorada como tem sido pelo jet-set, pelas superstars e pelos congressos do campeonato cultural, recearíamos ser solenes só para nós próprios, o que é ainda mais triste do que ser solene para os outros.
também receamos que não nos paguem as passagens para ir à capital passear o copo de gin muito bonitinho e enfeitado com o nome do arquipélago, com direito a uma salada-da-moda e a uns sapatinhos a condizer - devidos swag e circunstância incluídos no pacote.
claro que sabemos que a cultura é um rappel de domingo e quem não se aguenta na corda cai da parede e estatela-se na ignorância de ter pensado que havia alguma coisa de sério em tantas gravatinhas sentadas e atentas aos doutores. o desencanto serve-nos de pouco.
hoje, de facto, não celebramos nenhuma consagração. celebramos, com a gratidão dos copos e dos brindes, o gesto que a Sara Santos e o Carlos Alberto, sem aparatos-rtp ou afinados ardores e coros da capela, tiveram para com estas noites: ofereceram-nos dez livros de poesia para usufruto público, isto é, para quem passar pelas quintas nocturnas do Tascá.
por falar em Tascá, celebramos também que o Senhor Paulo Amado seja o melhor dos anfitriões de semana em semana em semana. o anfitrião que participa mais na noite de poesia do que as entidades culturais públicas todas somadas no arquipélago.
achamos por bem temperar o nosso anonimato com um pouco da histeria mediática geral.
se calhar não merecemos, porque não andamos a plantar peluches do Antero de Quental em tudo o que é jardim público. achamos que não é a distribuir flores líricas e beijinhos pela rua que se resolve seja o que for.
e achamos que a estátua está como está: cagada pelos pombos. 
(é. a cidade dos poetas é Ponta Delgada, mas este fornecimento das noites de poesia semanais no Tascá veio da Rua Manuel Paulino de Azevedo e Castro, 3, 9930-149, Lajes do Pico).
Obrigado, Companhia das Ilhas.
Obrigado, Tascá.
Obrigado, João Habitualmente:
«e agora não agradecemos a mais ninguém
porque vamos comer um bom bife
talvez devêssemos agradecer
à defunta vaca
porque sempre em tudo o que façamos
sem dúvida contraímos
obrigação de comer um bom bife
e foder uma garrafa de verde
o que é um acto poético
de incomensurável estética.»
Leonardo

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