“Eu
diria que a arte é, em primeiro lugar, não sobre o mundo mas sobre o sujeito
que a produz. A arte é um modo através do qual o sujeito pratica o desenho da
sua própria aparência do mundo. A arte
manifesta não o modo como eu vejo o mundo, mas o modo como quero que o mundo me
veja a mim. Regra geral, a imagem que apresentamos ao mundo não nos agrada
– por isso tentamos mudá-la por meio da filosofia, da política e da arte. E, ao
mudarmos a nossa imagem da sua prática, a arte transforma o mundo no qual
acontece. A arquitectura, por exemplo: independentemente de gostarmos dela ou
não, temos de viver dentro dela. A arquitectura define o nosso modo – isso pode
ser dito de todas as formas de design. Mas também somos formados pelos filmes
que vemos, os livros que lemos, etc. Nada disso é feito pela natureza – nem por
nós, enquanto leitores ou espectadores. E a nossa relação com toda esta arte
não é uma relação externa, estética. Não temos a liberdade da distância
estética e do juízo estético. Vivemos dentro da arte e somos formados por ela.
Por isso é uma pergunta legítima: como é que este processo formativo acontece?
E é precisamente uma questão da poética, não da estética.”
Boris Groys numa entrevista a António
Guerreiro, revista Electra, Março de 2018
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