terça-feira, 1 de janeiro de 2019

2018 despediu-se...com Janeiro Alves na Caixa do Correio


Caro Doutor Mara,
            
           Escrevo-lhe esta carta no último suspiro de 2018, desejando que a mesma o encontre capacitado para as artimanhas que um ano com a fisionomia de 2019 deixa antever. Todo o cuidado é pouco para um ano deste calibre, meu caro amigo!
A razão desta carta é dar-lhe um pequeno vislumbre da minha actual situação e das circunstâncias que a ela me conduziram. Recebi um convite do Royal Hotel Magestic para a gala do fim de ano, estabelecimento de grande categoria e reputação, onde curiosamente recebi o galardão de autor da “Pior Obra Literária do Ano”. Preparei logo o meu fraque Suiço e puxei todo o lustro que consegui aos meus sapatos italianos de cetim afivelados. Até aqui tudo normal. O Doutor Mara sabe que me dou bem nos círculos da alta roda. Mas eis que o mais inesperado aconteceu. Insólito mesmo, para não dizer de uma estranheza teatral. Quando entro no grande salão presidencial, deparo-me com mesas redondas de uma elegância inolvidável, com pessoas de uma beleza de cristal já sentadas a conversar e a bebericar pequenas doses do melhor champagne. Procurei o meu nome na lista de mesas, e foi então que fiquei estupefacto. Na minha mesa estavam os seguintes nomes: Janeiro Alves, Victor Klaus, Alberto Ai, Andar Carrasco, Fausto e Giorgio Delle Mare. Imagine Doutor Mara! Estou neste momento sentado com todos eles a degustar belas iguarias com acompanhamento vínico de gabarito internacional.
Como deve entender, agora não me posso alongar mais, pois há um ano para passar, mas certamente dentro de dias lhe enviarei informações detalhadas sobre este curioso encontro, que tem tudo para correr bem, e tudo para correr muito mal.
É portanto com um nervoso miudinho e ligeiros tiques no sobrolho que lhe desejo um excelente 2019, e uma noite de Reveillon com toda manigância e prestidigitação a que já habituou os seus convivas, desde que fez desaparecer a roupa interior da sua vizinha, fazendo em seu lugar surgir uma sangria de frutos vermelhos pronta a servir. Bom ano Doutor Mara, e até breve se não for antes.
No limite da hora e com toda a estima,
Janeiro Alves

2 comentários:

  1. Prezado Doutor,

    Não resisto deixar algumas notas, ainda que me faça falta um cigarro entre as mãos como terá, certamente, feito falta alguma companhia ao Janeiro na tal mesa em que se sentou...

    Certa vez também eu sentei-me sozinho a uma mesa cheia de gente. Era a Table 63 num cruzeiro pelos Balcãs, antes de irmos dar ao Mar Negro. Não se viu quase nada.

    Todos os outros passageiros à mesa eram de uma idade assaz avançada, ao ponto que muitas vezes eu cuidei estarem mortos. Era sempre um alívio quando se calavam eternamente. O bafio a antigo era de uma espessura inimaginável. Foram necessários talheres...

    Quedei-me, na 63, apaziguado pelo vinho de excelente qualidade (pareceu-me que teria sido pisado por humanas benesses ancestrais - a Antiguidade ali tão perto...).

    As vozes na minha cabeça foram a única companhia a dar alento à borda dos copos como se fossem corpos auto-sorvidos. A boca sempre sedenta. Os mortos por ressuscitar.

    Imagino como se terá sentido, o nosso prezado Janeiro, com tantas vozes à sua volta na mesa reservada para o efeito. Quase cósmico, aposto, embora no meu caso, na Table 63, em vez que supernovas eu tivesse supervelhas. Sinas, provavelmente.

    Votos de um Bom Ano para as vossas almas!

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  2. Estimado Marco Evo,
    enobrecido fico por lê-lo no início de um novo ano.
    Auguro-lhe um ano feliz!

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