Actor Miguel Seabra do Teatro Meridional |
A
presença da peça “O Senhor Ibrahim e as Flores do Corão” na sala do Teatro
Micaelense, na noite de 23 de Março, figurará, certamente, como um momento singular e marcante no ano teatral a decorrer por estas bandas açorianas. Com encenação e
interpretação de Miguel Seabra, música de Rui Rebelo, o texto pertença do
escritor/dramaturgo Eric-Emannuel Schmidt trata-se de um libelo no que toca à amizade e à
tolerância entre duas pessoas. O monólogo retrata bem a diferença de culturas, religiões e os caminhos trilhados ao longo da vida, no fundo, a humanidade. A
narrativa evoca a Paris dos anos 60, as aventuras de um jovem judeu e um
merceeiro na rua bleu, que afinal não é azul. A fala do actor começa pela afirmação do
pequeno judeu: “Quando fiz onze anos parti o mealheiro”, sendo que é a partir
daqui que este será presença assídua na loja do velho
merceeiro árabe e que, após múltiplas peripécias existenciais e dores de crescimento, se
tornará também ele próprio herdeiro e transmissor do seu legado.
Numa peça que prima pela
simplicidade de meios em palco, apenas um actor, este vai explicitando as vicissitudes e os diálogos
ocorridos entre os dois personagens, acompanhado pela presença dum músico e de um cenário escuro e surpreendente que vai mudando, com várias
invocações de luas, marés, livros bíblicos, entre tantas outras coisas. E a vida continua, parece ser o lema deste monólogo repleto de pormenores deliciosos
no que toca à compreensão/incompreensão entre os seres humanos ou o significado
profundo de quem verdadeiramente nos influencia e nos toca para nos tornarmos naquilo que somos na idade adulta. Uma interpretação rica e profunda, uma entrega irrepreensível do actor fundador de uma companhia - o Teatro Meridional - que visitou São Miguel pela primeira vez em 27 anos de existência teatral.
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