sábado, 19 de outubro de 2019

Sempre aos Domingos

Aos domingos enquanto abrias a porta do quarto
perfuravas uma desarrumação que dilacerava
fixavas o poster com o Rui Jordão ou
apontavas no globo o corno de África
as notas rasgadas do monopólio atrás da arca
o suor das fotografias os rostos enxugados
naquela descida de rolamentos acelerada
até ao fim da curva

Aos domingos nessas ruas com nome de infância 
sabias de imediato não poder atravessar 
aquela ruína cerrada ao fundo do quintal
o medo acumulado para observar distante
num verde baralhado da partida 
embarcavas quase secretamente sem pensar
no desacordo da lua e do vento instável
falsas promessas de um prometido paraíso.

O Homem do Saco no TIPOS

Fotografia de Carlos Olyveira

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Girassóis

São horas dolentes à janela retendo
A luz da tensa espera em prumo claro
Jangadas de esperança em fina ardência
Que da torrente se anunciam fulgurantes
Acelerada combustão

Trazem com elas sal à memória
Luminosos dias que se apagaram
O vento que soprava a favor amainou
A carga dos cargueiros ao cair da tarde
E a cadeira infantil em pleno porto

Baloiçando

Tantas vezes denunciam as horas
A infinita tristeza dos girassóis
Daqueles que se inclinam à noite
Ou dos que raramente se escondem
Expondo-se de forma desdenhosa
À claridade

Um Verso de Luís Severo

Ou se te esqueço para lembrar o Verão