"Enquanto
discípulo da energia respiratória, o ciclismo relaciona-se directamente com
tudo o que existe em nós de verdadeiramente espiritual e espacial. Exigindo um
equilíbrio físico e psíquico da concentração, a actividade motora repetitiva,
contínua e profunda, funciona como uma equivalência física matizada do
equilíbrio psíquico, da concentração, da harmonia e do ritmo de que falam
inúmeros sistemas religiosos e filosóficos. Os mais antigos e os mais venerados
destes sistemas pressupõe sempre que não se pode agir sobre o espírito sem se
agir sobre o corpo.
Em
resumo, a bicicleta pode representar, na longa história dos artefactos humanos,
uma dos mais raros exemplos de uma interacção totalmente benéfica e
ecologicamente irrepreensível entre tecnologia e arte, entre matéria e
espírito. Se, como diz William Blake, a energia é uma fascinação perpétua,
então a bicicleta é uma energia. Porque o facto de andarmos de maneira
disciplinada numa bicicleta, que é leve e que tem várias velocidades, pode ser
psicotrópico, pode mudar o nosso espírito e o nosso coração. Uma corrida
prolongada e concentrada tem efeitos no modo de focalizarmos a percepção de
definirmos os contornos, as cores e os sons do mundo físico. Andar de bicicleta
é alargar e intensificar o nosso campo
visual. Esta espantosa invenção tem, de uma maneira muito simples, o poder de
mudar a natureza da nossa relação com o mundo."
Peter Cummings, extraído de Bicycle
Consciousness; poems and prose, antologia de textos, Relógio D´Água,2019.
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