“E era uma
vida incomparável, uma vida de alegria e entusiasmo em que se desenvolvia
aquele amor como uma flor ébria de seiva. Era uma vida livre, sem restrições
nem limites. Tinham a sensação de uma liberdade física absoluta, como se os
sentidos estivessem libertos de entraves desconhecidos, como se os olhos se
movessem mais livremente nas órbitas e as orelhas ouvissem sons que
habitualmente são imperceptíveis. Era uma vida de seres sobre-humanos. Que
maravilhosa sensação! Voar como os pássaros, em silêncio, no ar submisso; ver,
como deuses, a mudança ininterrupta de cenários; descer as planícies nos vales,
subir ao longo das colinas, andar de cidade em cidade, acompanhar os rios,
desvendar florestas, e tudo isto graças à potência dos músculos, ao funcionamento
correcto dos pulmões, à tenacidade do querer. E isto tudo sem quaisquer
inconvenientes. Gostam do sol que lhes aquece a nuca, mas também gostam da
chuva que os fustiga e do vento que os açoita, porque se sentem formidáveis,
vencedores dos elementos, donos do mundo.”
Maurice Leblanc, in “De
Bicicleta, Antologia de Textos”, Relógio D´Água, 2018.
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