O dia anuncia o seu fim, a derradeira luz
cai, o azul celeste vai desaparecer e sobra muito pouco tempo para contemplar o
céu e duas pequenas nuvens, estas concebidas como farrapos, parecendo imóveis. Assim como
se tratasse de uma viagem interrompida, lograsse também tudo isto findar, acaso sossegar os créditos dessa dor. Comprometidos ficariam apenas uns versos simples
e compreensíveis tal e qual a tua presença fugaz, ainda que atribulada por
aqui.
Pus-me, entretanto, a imaginar que se ainda
vivêssemos naquela rua sem gente à janela, talvez possuíssemos coragem para
evocar a liquidez de outrora, esqueceríamos a distância assídua dos mapas, o
medo que agora nos impede os movimentos ou os segredos virtuais conservados
pelas biografias. Certo que desceríamos aquela calçada robusta para alçar aquela
bandeira com uma folha de bordo em teu clamor.
A nuvem vai agora desaparecer, juntando-se
em circulo rodeando a lua, parece suplicar um leve aconchego, embrulhando dedos delicados em seu redor. Por instantes, ouve-se ao de leve uma canção de um autor conhecido. Qual de
nós é que se esqueceu de acender a luz?
Atravessaremos a noite como quem persegue
a linha do horizonte. Quem chegar primeiro, avisa.
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