"(..)Ah sim! Maio, não era? Era de Maio que eu vinha falando?...Já rebentaram as novas fontes e não há valado, carreiro de aldeia onde não cresçam os lírios selvagens, lindas florinhas graciosas e humílimas...As raparigas cortam-nas, enfeitam com elas os cabelos e os seios - e riem, coram, se as olharmos. Só na cidade não há flores. Ontem, ao entardecer, deparei na rua com este caso enternecedor e banal.Nem já se diferenciavam as ressequidas. Uma triste rapariguinha que passava, descalça, de saia rota e cabelos ao vento, aparnhou-as da poeira, sacudia-as e pondo-as ao peito, partiu a cantar numa satisfação imensa, alegre como um pássaro.
Era decerto condão das flores - mas também de Maio que chegou, com a sua magia e o seu sonho. Rebentaram novas fontes, e a terra dila-eis agitada e viva. Sob o chão que calcamos correm rios de tintas que transbordam e cobrem as árvores de roxo, de púrpura, de verde."
Raul Brandão, retirado do livro "A pedra ainda espera dar flor", organização de Vasco Rosa, publicado originalmente em "Brasil-Portugal", Lisboa, 16 de Maio de 1901, pp.125-26. Tb.in "Vimaranense", Guimarães, 5 de Maio de 1917, p.1.
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