O
filme “A Herdade”, de Tiago Guedes, acabou de ser exibido na RTP 1, em quatro
episódios. Esta longa metragem teve um enorme impacto aquando da sua estreia,
registando 70 mil espectadores em sala, venceu inclusive um prémio Bisato
d´Oro (Melhor Realização) no Festival de Veneza tal como ainda foi nomeado
enquanto película representante de Portugal nos Óscares do ano passado.
Tiago
Guedes compôs aqui um retrato vivo do Estado Novo até ao Portugal contemporâneo
através de uma família proprietária de um latifúndio a sul do Tejo. O filme incide
sobretudo no final da ditadura, os acontecimentos do pós 25 de Abril até à
normalização europeia, com a entrada na CEE. O realizador contou nessa tarefa
com a colaboração do argumentista Rui Cardoso Martins, sendo que a tessitura
psicológica e dramática das personagens esteve a cargo do realizador. Ressalte-se deste modo a
representação do actor Albano Jerónimo, com trejeitos de galã irascível, ao
interpretar o papel de João Fernandes, o dono da herdade, e que tem o condão de
prender e seduzir o espectador nessa travessia à volta da nossa história recente.
O “dono disto tudo” não poderia ter sido melhor representado num país e num
mundo em transformação, aliás, numa mudança que não teria mais retorno. Curiosamente, a sua
personagem faz muito lembrar outra do cinema português - a de “Tomás Palma Bravo”, obra de Fernando
Lopes/José Cardoso Pires, em o “Delfim”. A acompanhá-lo estão também Sandra
Faleiro (Leonor), Miguel Borges(Joaquim) João Pedro Mamede (Miguel), entre outros, numa
produção de Paulo Branco. “A Herdade” é, pois, um filme suado
e bem trabalhado, com garra e uma banda sonora que cria tensão
suficiente, para lá de uma fotografia que apela a um tempo lento e delicado.
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