"Eu procurava algo na Ilha.
As pessoas viviam perto da terra, perto do mar, perto daquilo que é natural e predeterminado para nós.
O sinal que distinguia as pessoas que encontrei, quando os turistas partiam, no fim do Verão, era a sua simplicidade.
Nenhum daqueles homens e mulheres, segundo percebi, poderia jamais ser humilhado. Viviam em harmonia com os seus eus, com tudo o que era bom e mau em si mesmos. Nenhum estranho poderia apontar para eles e fazerem-se sentir-se inferiores.
Pessoas que confiaram no seu lugar na terra . Estavam longe de não ter complicações, não eram destituídos de exigências, ódios e agressões. Mas possuíam orgulho, e uma dignidade que não permitiam a ninguém destruir. Tinham razões que ficaram plantadas no mesmo lugar da terra, durante toda a sua vida.
Muito velhos têm isso. Renunciaram a pretensões, deixaram de lados sonhos falsos, pararam com a louca corrida.
Também são ilhéus na nossa sociedade.
Como as crianças.
Pessoas que não se preocupam em manter a máscara e a fachada em ordem. Que ousam mostrar quem são.
Ilhéus.
Pessoas que vivem de acordo com a sua maneira de pensar. Mesmo que esta não seja assim tão notável.
De alguns deles emana uma sensação de segurança, uma coisa simples, que talvez seja a dignidade do coração."
in excerto de Mutações, 1974, Editora Nova Nórdica, Lda.
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