"O
papel salvou-me sempre.
Talvez até morra um dia soterrado em arquivos, mas aprendi que os maiores prazeres e as coisas mais fiáveis da vida se dão ao toque. O papel que leio, que manuseio, que tesouro, que guardo, que revisito deu-me memória, inspiração, enquadramento, contraste, futuro. Tenho arquivos sobre temas que amo, mas sobre os quais nunca escrevi (comboios, por exemplo), mas sempre na esperança de um dia vir a fazê-lo. O meu último livro, sobre Amália Rodrigues, não teria sido possível se não tivesse praticado esse "desporto" anos a fio.
Se fosse padeiro, não guardaria o pão da semana passada. Se fosse médico, não colecionaria receitas. Calhou ser jornalista. Por isso, sou guardador e cuidador de papéis. Para mim, para outros. Os dias que correm estão a pôr-nos a jeito para a falta de memória. E de arquivos. Por este andar, não guardaremos nada para além do dia de ontem. E a memória de ontem é quase uma memória de peixe. No jornalismo, então, é uma doença mortal.”
Talvez até morra um dia soterrado em arquivos, mas aprendi que os maiores prazeres e as coisas mais fiáveis da vida se dão ao toque. O papel que leio, que manuseio, que tesouro, que guardo, que revisito deu-me memória, inspiração, enquadramento, contraste, futuro. Tenho arquivos sobre temas que amo, mas sobre os quais nunca escrevi (comboios, por exemplo), mas sempre na esperança de um dia vir a fazê-lo. O meu último livro, sobre Amália Rodrigues, não teria sido possível se não tivesse praticado esse "desporto" anos a fio.
Se fosse padeiro, não guardaria o pão da semana passada. Se fosse médico, não colecionaria receitas. Calhou ser jornalista. Por isso, sou guardador e cuidador de papéis. Para mim, para outros. Os dias que correm estão a pôr-nos a jeito para a falta de memória. E de arquivos. Por este andar, não guardaremos nada para além do dia de ontem. E a memória de ontem é quase uma memória de peixe. No jornalismo, então, é uma doença mortal.”
Miguel Carvalho, Visão.
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