sábado, 26 de março de 2022

Hugo Pratt por Milo Manara

    

       "Então sim, se mudarmos o contexto histórico, ele era Corto Maltese. Era um homem de uma absoluta liberdade, sendo também capaz de pagar o custo da liberdade. O que podia passar por discutir com alguns editores ou com a mulher dele. Quando sentia que alguém estava a tentar impor-lhe alguma coisa, rebelava-se de imediato. Era um homem absolutamente ultra livre. Aquilo que gostava mais era da sua liberdade, acho. E depois considerava todo o mundo como uma possibilidade de descoberta, de viagem. A sua característica como autor sempre foi a de alguém que dava a conhecer civilizações diferentes. Era absolutamente antirracista, mas mesmo de coração. Tinha o antirracismo dentro dele. Tinha um respeito absoluto por todas as culturas: a africana, a chinesa, a tibetana, depois sobretudo a hebraica. Fascinavam-no mesmo. Escreveu e desenhou histórias passadas um pouco por todo o mundo. E mostra sempre um enorme respeito pelas culturas, seja de onde for. Também quando falava sobre a II Guerra Mundial, nunca havia condenações definitivas. Talvez as houvesse para os chefes, mas não para as personagens. Se a personagem era um soldado alemão, mostrava um respeito enorme. E todas as personagens eram problemáticas. Cada uma delas se perguntava se seria certo o que estava a fazer. Foi um autor maravilhoso, enorme. E, neste sentido, Hugo Pratt era mesmo Corto Maltese."

Milo Manara em entrevista a João Pacheco, Revista Expresso, 24 de Março de 2022.

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