No quarto sobre uma cómoda
o priolo embalsamado.
Penas de branco-sujo e creme, tons de
castanho queimado. Protege-o
no vidro de uma redoma. Mesmo na morte
um frouxel.
o priolo embalsamado.
Penas de branco-sujo e creme, tons de
castanho queimado. Protege-o
no vidro de uma redoma. Mesmo na morte
um frouxel.
Tudo se avista deste quarto -
santos e pagelas por detrás das portas
do oratório - quando a noite e a ilha se
estreitam na cama desamada.
Vem um cheiro a maresia, a porões e os
passos de quem percorre, erradio, o
embarcadouro
sem saber a hora da partida
a hora de quem prometeu chegar. E
o pássaro na obediência da morte
fixado nas trevas que lhe povoam o canto, vê
na fronteira do lá fora
membros, ossos, vísceras, os meus erros,
o verso meu dentro do quarto. Sob a asa do
priolo, prata e luz a esvoaçar ao redor do
candeeiro entre os actos da vida.
in "Lagoeiros", Relógio D´Água, Novembro de 2011.
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