"Ao abrir a janela do carro um estranho ventou soprou com ímpeto. Os papéis no banco de trás saltaram de contentamento, ergueram-se e rodopiaram como pássaros numa gaiola, sedentos de vida e do mundo. Um deles, mais astuto e ébrio de felicidade, soltou-se pela nesga da janela entreaberta e correu louco pelo Ar de repente infinito. Voou pelo vento adentro como se pela primeira vez provasse o sabor da liberdade.
Carrasco de papelaria, fechei a janela e expulsei o vento intruso. A alegria dos papéis de imediato cessou. Pareceu-me ouvi-los murmurar entre si um lamento fundo, cada um em seu canto, espalhados como coisas mortas pelo habitáculo."
Bruno Santos in "Sursum Corda - Voando à Superfície", Grácio Editor, 2019.
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