Capa de "Mandem Saudades" |
Em 1853, é referida em documentos a presença de 86 portugueses na ilha de Oahu, onde fica a capital, Honolului. Era ainda uma comunidade muito pequena, essencialmente oriunda de Cabo Verde e dos Açores. Dez anos depois, eram já 500 os homens portugueses, quase todos ex-caçadores de baleias que foram ficando espalhados pelas ilhas habitadas - na sua maioria, tinham desertado dessa perigosa perseguição dos cetáceos. No meio do Pacífico, aquele era o local escolhido pelas baleias grávidas, que aproveitavam o inverno para que as suas crias nascessem nas águas calmas de Lahaiana. A frota baleeira, sempre com muitos açorianos e cabo-verdianos, foi mantendo a rota até quase ao fim do século XIX.
Com tantos lobos-do-mar a chegar, não admira que aquele porto fosse terra firme para o prazer, o álcool, muita pancadaria de marinheiros e todos os excessos que as longas temporadas nos oceanos tinham interditado.
Quem também passou por Lahaina na mesma época, em 1843, tendo lá ficado seis meses - de boémia e inspiração - foi Herman Melville, escritor americano que em 1851 publicou o romance Moby Dick, onde descreve os destemidos marinheiros portugueses.
É claro que o corrupio das mulheres nativas a entrar e a sair das embarcações criou alguns embaraços na comunidade mais conservadora e religiosa, tendo o assunto sido várias vezes discutido com o rei.
Na segunda metade do século XIX, a indústria baleeira entrou em crise, e foi nessa altura que se reconverteu a economia das ilhas com a plantação intensiva da cana-de-açúcar e ananás."
Mário Augusto in "Mandem Saudades", Fundação Manuel dos Santos, Maio de 2022.
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