"O nosso "inverno demográfico"(uma metáfora tão congelada como a "longa noite fascista", que assola em diferentes graus de gravidade toda a Europa, desvia-nos da verdade demográfica, quando apreendida na escala planetária: a população mundial aproxima-se dos 8 mil milhões e não pára de crescer. Não há um problema global de falta de gente; pelo contrário; há gente a mais. Não há um déficit demográfico; há um problema de carácter biopolítico. Os desequilíbrios na distribuição de população pelos territórios são análogos aos desiquilíbrios na distribuição da riqueza. Mas o que se perfila no horizonte é que esta situação (agravada por outros desiquilíbrios) ) é insustentável e os sintomas disso já estão bem à vista: a população escolar diminuiu mas, ainda assim, não há professores suficientes, tal como não há gente para trabalhar nos cafés, nos restaurantes, nos hotéis, nas vindimas, na construção civil. Actualmente, um eletricista ou um carpinteiro são requisitados como figuras comunitárias dos quais se reclama o cumprimento não de uma tarefa, mas de uma missão. E não se pense que é um problema português: a Alemanha para fazer face ao déficit de mão-de-obra nos mais diversos sectores(alguns dos quais completamente estrangulados) precisava de recrutar cerca de dois milhões de pessoas".
António Guerreiro, in "A obsolescência não programada", Ípsilon, 2 de Setembro de 2022.
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