A
única sessão de cinema que assisti no Cineteatro Miramar, espaço cultural da
vila de Rabo de Peixe, tinha por título “Ama San” de Cláudia Varejão.
Recordo-me dessa tarde sábado, sobretudo do ambiente desta vila micaelense com
as ruas cheias de crianças e homens à porta dos cafés e com as mulheres sentadas
na soleira das portas, lembrando de imediato outros espaços de
sociabilidade, frequentados no passado,
como, por exemplo, as Caxinas que conheci tão bem nos idos anos 80 e 90.
O filme de Cláudia Varejão, talvez por causa do título, não despertou muito interesse aos locais, mesmo o facto de ser gratuito apenas mobilizou o público que está habituado a estas lides cinematográficas. No entanto, cá fora dava para observar que a vida continuava e seguia o seu rumo com a agitação do costume. O impacto, no final do filme, foi muito forte que, mesmo sendo um filme do Japão contemporâneo, essencialmente focado numa ilha remota com um grupo de mulheres de diferentes faixas etárias que mergulham em apneia à procura de moluscos (abalones), vivendo as suas vidas aparentemente de forma simples e harmoniosa, em contacto quotidiano com a natureza e com relações de grande cumplicidade, aquela sessão, naquele lugar, jamais seria olvidada, de tão bela que tinha sido.
O filme de Cláudia Varejão, talvez por causa do título, não despertou muito interesse aos locais, mesmo o facto de ser gratuito apenas mobilizou o público que está habituado a estas lides cinematográficas. No entanto, cá fora dava para observar que a vida continuava e seguia o seu rumo com a agitação do costume. O impacto, no final do filme, foi muito forte que, mesmo sendo um filme do Japão contemporâneo, essencialmente focado numa ilha remota com um grupo de mulheres de diferentes faixas etárias que mergulham em apneia à procura de moluscos (abalones), vivendo as suas vidas aparentemente de forma simples e harmoniosa, em contacto quotidiano com a natureza e com relações de grande cumplicidade, aquela sessão, naquele lugar, jamais seria olvidada, de tão bela que tinha sido.
Entretanto, passados tantos anos, soubemos
esta semana do anúncio de uma empresa regional, com ligações institucionais ao governo dos Açores, ter como pretensão vender este
Cineteatro Miramar em hasta pública, o que gerou uma onda de contestação política, sendo que chegou a existir mesmo uma petição pública de
repúdio perante tal decisão. A realidade daquele Cineteatro agrega jovens e outros músicos que usam
semanalmente o espaço para aprender e tocar jazz, adolescentes e adultos que usam assim o
espaço da Ludoteca para partilhar jogos, músicas e e-mails, reconhecendo dessa
forma a importância deste espaço no atividade cultural daquela vila piscatória.
Por isso, questione-se: o que terá passado pela cabeça de alguém para anunciar
tal propósito?
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