“(…) Não me interpretem mal, sou fã da
prosperidade. Há imensas vantagens na riqueza que a pobreza não deve impedir.
Mas há umas poucas vantagens da pobreza que a riqueza não deve ocultar.
Humildade, sentido de comunidade e de partilha são por maiores que podem ficar
para trás quando andamos focados na caça ao guito. Esses eram os nossos maiores
tesouros. É para abrir mão deles em definitivo?
Talvez isto de ganância e do
consumismo seja um sinal dos tempos…Mas temos mesmo aceitar os tempos que nos
dão ou podemos criar os nossos? Não dá para continuar a ser quem somos e tornamo-nos
prósperos? É impossível sermos ricos sem nos tornarmos gananciosos e
consumistas?
Tem já alguns anos que procuro casa
para morar. Intensifiquei a busca este ano, depois de ter um bebé e achar
conveniente dar-lhe um teto permanente. Não que seja necessário, que nos países
do norte grande parte não terá casa própria. Mas ao preço a que por cá os
arrendamentos andam…
Está tudo tão caro. Na região só o
mormaço, a humidade, a falta de tacto, de criatividade e de arrojo continuam a
um preço simbólico. Valha-nos isso."
Francisco Bradford Câmara
in “9 Bairros”, Setembro/Dezembro de 2022
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