sábado, 29 de abril de 2023

O Independentista

Não demorou muito a nossa conversa. 
O tempo útil da viagem entre Ponta 
Delgada e a Ribeira Grande. Aceitei os
argumentos. Não percebi para quê a 
independência 
se já o eram desde 1143.
Serem os mais portugueses de Portugal
talvez fosse a única razão. Por 
último falei-lhe na monarquia. «Isso 
resolvia tudo.» Foi a sua resposta.

Uma vida não pede cenário algum
muito menos a corrupção  - não
se compara à mais perdida das paixões,
é somente a terra que pisamos e 
onde temos o fio do passado.
 
Abri a porta de casa. Um país vive sempre
entre a luz e as trevas 
fragor de rio caudaloso (chovera muito e
ouvia-se a ribeira sob a ponte) água 
que se despenha das alturas 
e se não for deste modo 
não há destino 
apenas seguimos atrás uns dos outros num 
enterro, até ao último dia.
Geografia e história de um povo
esvaziam-se de sentido quando a sua 
paisagem cresceu demais, além da bruma, além da noite.

João Miguel Fernandes Jorge, in Lagoeiros, Relógio D´Água Editores, Novembro de 2011. 

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