quarta-feira, 31 de maio de 2023

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Poema de Jorge Sousa Braga

Na espessura do bosque 
o que a minha mão procurava 
era um  mirtilo

in "Fogo Sobre Fogo", da colectânea "Poeta Nu", Assírio & Alvim, 2007.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Da Resignação

 "-Eu adoro os portugueses. Amo os portugueses. Mas quando falo dos portugueses, simplifico muito a questão, claro, porque os portugueses são muito diferentes. Há, no entanto, certas coisas que odeio nos portugueses. Aquela atitude permanentemente resignada. A falta de sentido de humor. É uma coisa horrível. Nós os portugueses temos uma falta de sentido de humor, que é paralisante. É terrível, prejudica tudo. Outra coisa terrível que os portugueses têm é a importância que dão a si próprios. Acham mesmo que são os defensores da civilização, que é tudo muito sério que não dá para rir de certas coisas, que há coisas sagradas. Isso é muito debilitante. Prejudica muito. A ideia de que não se brinca com isso, de que se tem uma missão importante. Qual missão importante? Se fores atropelado amanhã, qual é diferença para o mundo? Nenhuma. O que é que interessa? A morte não ensina isso? Que as pessoas morrem e depois são esquecidas?"

Miguel Esteves Cardoso, entrevista de João Pedro George, Visão, 8 de Dezembro de 2022.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Muito Obrigado, Eduarda Dionísio!

Eduarda Dionísio
(1946-2023)
        Leio a notícia do seu falecimento nos jornais do dia: doença oncológica. Aproveito para dizer que li uma boa parte dos seus livros publicados, acompanhei muita da sua atividade pública na "Abril em Maio" e, depois, no Centro Mário Dionísio, Casa da Achada. Votei, inclusive, influenciado por algumas das suas opiniões firmes e convicções inabaláveis, pois sempre gostei de ver gente idealista, sem temor a bater-se por aquilo em que acreditava. E, a partir daí, convidei-a para encontros, debates, colóquios, porque gostava de a ouvir discorrer sobre cultura, a memória ou ainda  sobre o período em que o Portugal democrático se abriu numa leda participação de associações,  cooperativas, cineclubes e outros colectivos. Cheguei mesmo a participar em leituras da obra do seu pai, Mário Dionísio, tal como ainda me convidou para dizer poesia com o José Nuno com o "Movimento Diplomático do Outono" ou apresentar filmes ("Il Sorpasso", de Dino Risi, 1962), "A Polícia da Estrada" de Robert Blake, 1973) nos espaços da sua Associação. Foi, através dela, que conheci o Jorge Silva Melo, o Miguel Castro Caldas, o Vítor Ribeiro ("o adorável Maçariku"), o Vitor Silva Tavares, a Tereza Arriaga, entre tantas outras pessoas com quem me cruzei na Rua da Verónica, no Regueirão dos Anjos ou na Achada. Ou como passei a parar em Lisboa antes de rumar ao norte. A Eduarda era minha amiga e eu tinha muito orgulho nisso! 

domingo, 21 de maio de 2023

Dez Haikus de Naná da Ribeira

 Canal

No Canal de Estocolmo extasiado
Deram-me um leme e eu navego 
É o verão cheio à tua procura 


Poça Ti Silvina 

Dentro é calor demasiado 
Corpo dormente, apatia, 
E é hora de arrepiar caminho 

Hora do Mercado 

Escutam-se os pássaros ao jantar
Invasores, pousam no braço das cadeiras,
Amanhã voarão junto à penedia

Tás Cá?

Encerraram a porta antes da madrugada 
Não vá o poeta amanhecer
A recitar versos nas caixas dos correios

Frescas 

Bebemos sem expressar dúvidas 
Ultrapassando todos os limites 
Do mar de incertezas a que acabamos de chegar

Nuvens de Lá 

Decoro os seus nomes com vagar
Enquanto o tempo ajuda a clarificar 
E nem da janela já as avistamos 

Nova Política

Servidores da polis com vigor 
Encarar de frente o obscurantismo secular
Até ganhar de vista um horizonte 

Candelária

Duas palmeiras elevadas ao céu
Embalam a harmonia de brasas
São círios que se acendem até ao mar 

Catarata 

Irrompeu assim uma nuvem invasora 
Nada restou senão imaginar 
Outras quedas ainda maiores 

Domingo 

Em busca do silêncio coral
Abarcamos sábio legado em movimento
Um diálogo marinheiro com as águas

sábado, 20 de maio de 2023

Verso de Tim Bernardes e Rodrigo Amarante

 No arco do olho entre os cílios do sol, pavão 

"Que Lugares Queremos Criar?" no CAC

           
Teresa Oliveira e Beatriz Barbosa 
Foram apresentados, nesta última quinta-feira, o mural e o fanzine elaborados pela turma do 10ºD, alunos da Escola Secundária da Ribeira Grande, sob a orientação do artista plástico, André Laranjinha, inserido no projecto - "Que Lugares Queremos Criar?", proposto ao longo de oito meses pelo serviço de mediação do Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande.

      Esta mediação do Centro de Artes Contemporâneas e as escolas visa sobretudo a criação e fidelização de novos públicos tão necessários à afirmação e consolidação deste espaço na região e no lugar onde está inserido. Como aproximar o público local da dita arte contemporânea? Esta e outras questões tornam-se de tal modo pertinentes que tem levado a uma relação dinâmica e assídua com o público mais jovem oriundo das escolas ao mesmo tempo que estabelece uma relação de compromisso e valorização do ensino e da educação pela arte nas circunstâncias e contexto existentes.
       Desta feita, o resultado deste encontro com André Laranjinha e os alunos da Escola Secundária da Ribeira Grande pode ser apreciado  num mural à entrada do edifício assim como a materialização de um fanzine que reúne uma súmula profícua e estimulante de trabalhos relacionados com o desenho, a colagem, a pintura, num conteúdo em que se misturam sonhos, desejos, desabafos poéticos ou mesmo gritos interiores.

Matilde Gonçalves e Matilde Pacheco 
  Aproveite-se, assim, para saudar mais esta iniciativa, sobretudo o lançamento deste objecto gráfico por uma geração pouco ou nada habituada a estas andanças  - vive nas redes digitais – e, certamente,  pouco ou nada dada a manuseamentos gráficos e disposições visuais, o que pode ser despertador de algum entusiasmo e curiosidade num futuro próximo. Por tudo isso, os mais que justos parabéns aos corajosos autores e autoras assim como aos promotores e facilitadores  desta importante iniciativa.

Fanzine: A Viagem

Fanzine A Viagem 
Que Lugares Queremos Criar?
CAC (Centro de Artes Contemporâneas, Arquipélago)
num projeto com alunos da ESRG e André Laranjinha

Da Pobreza

        “Não gosto da narrativa de que Portugal é e sempre será um país de pobres porque me parece existir nela um conformismo que me recuso a aceitar. Mas é inegável que, de alguma forma, a pobreza nos moldou o carácter. Fingir que não é verdade e que nunca aconteceu é o pior que podemos fazer pelos que nos antecederam, por nós mesmos e pelos que nos sucederão.
         Os avós e bisavós de Portugal caminharam na escuridão para que hoje pudéssemos ter luz. E depois transformaram-se num bosque com árvores como as do quintal do homem da história. Cada um deles está vivo nas raízes que nos prendem profundamente à terra. Ignorar isso é ignorar um país. Ignorar isso é ignorar quem somos.”  
                                                                         
                                            Carmen Garcia, in Raizes, Público, 30 de Abril de 2023.

Thanks, Andy Rourke!

Andy Rourke  (17-01-1964 -19-05-2023)
                     (à esquerda dos The Smiths)

Almanaque Emocional

          
in"Wether There Be Shine or Gloom"
Susana Aleixo Lopes
(Centro de Artes Contemporâneas, Arquipélago)
     Francisco Afonso Lopes elaborou um Almanaque Emocional, no fundo um "guia prático para o cultivo de sentimentos e afetos", editado enquanto programa paralelo de "Wether There Be Shine or Gloom", exposição da artista plástica Susana Aleixo Lopes, que teve lugar no Centro de Artes Contemporâneas, Arquipélago.
           No interior deste almanaque há leituras e chispas para todos os gostos e feitios. Há, por isso, o "Canteiro da Poesia", o "Pluviómetro Sonoro", o "Suplemento para Estaquia", a "Publicidade Institucional" e ainda uma curiosa "Homenagem Póstuma", onde reza o seguinte: "Encham-me de palha e deixem-me embalsamado no Museu Carlos Machado".
          Por variadíssimas razões, aconselhamos a aquisição deste Almanaque Emocional, pois trata-se de uma divertida pedrada no charco na modorra sentimental e apatia cultural e afetiva em que mergulhamos no pós-pandemia. Estamos todos muito carentes destes almanaques predicativos, sobretudo destas hilariantes desconstruções dos modos e usos da vivência insular. Haja, portanto, gente que queira ler e desfrutar do prazer da sua leitura.

terça-feira, 16 de maio de 2023

A Erva da Fortuna de Jorge Sousa Braga

 A erva da fortuna cresce como por encanto nas orelhas dos políticos,
o primeiro-ministro proclama a amnistia para os cucos dos relógios,
o degelo das relações internacionais restabelece o nível das águas nas
albufeiras, o ministro da energia esfrega as mãos de contente. Em-
bora o boletim meteorológico seja controlado pelo governo, nuvens 
cor de chumbo toldam frequentemente o horizonte, os pescadores
de águas turvas procuram o alto mar, uma chuva de impostos cai de
imprevisto, ah a chuva na primavera, escrevem os poetas.

As andorinhas podem passar livremente a fronteira. Os polícias ofe-
recem grinaldas aos condutores de veículos mal estacionados. O cio
invade a assembleia. Os deputados bombardeiam-se com pólen. Um
nostálgico do outono argumenta: a primavera de Praga também  foi 
de lagartas nas estradas. 

" De Amanhã Vamos Todos Acordar com uma Pérola no Cu", in "Poeta Nu", Assírio&Alvim, 2007. 

Pano para Mangas (III)

Tânia Neves dos Santos 
 

La rentrée de Cannes 2023!

Il Sol Dell`Avvenire de Nanni Moretti
(Estreia dia 24 de Maio em Cannes) 
Aqui: https://www.festival-cannes.com
 

Verso de Elizabeth Fraser e Jeff Buckley

 all flowers in time bend towards the sun

segunda-feira, 15 de maio de 2023

"Futuros Incertos" no Arquipélago!

    A exposição "Futuros Incertos" inaugura esta quinta-feira, dia 18 de Maio, e irá permanecer até ao final de Setembro. Trata-se de um conjunto alargado de obras da coleção do Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas, que podem, assim, ser vistas nesta trilogia de exposições. Objetos artísticos de Rui Moreira, Lawrence Lemanoana, Filipa César, Carla Filipe, Maria José Cavaco, Miguel Leal, Noémia Cruz, José Nuno da Câmara Pereira, Tomaz Borba Vieira, Gabriela Albergaria, Pedro Valdez Cardoso, Gabriela Oliveira, João Pedro Vale, Nuno Alexandre Ferreira, Eduardo Sarabia, Gustavo Rezende, Robin Rhode e Gil Heitor Cortesão compõe este segundo núcleo expositivo em destaque, pertencendo a curadoria a João Mourão. Ainda nesta quinta-feira será apresentado o fanzine elaborado pela turma do 10ºD, alunos da Escola Secundária da Ribeira Grande, num trabalho efectuado em conjunto com o artista plástico, André Laranjinha, inserido no projecto - "Que Lugares Queremos Criar?", proposto ao longo de oito meses pelo serviço de mediação do Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande.

O Tremor na Voz!

Edição de 10 de Maio de 2023
Jornal Voz da Póvoa 
 

Colecção de Postais (3)

Festival Tremor
Fotografia de Vera Marmelo 
 

Verso de José Mário Branco

Mariazinha, deita os olhos p´ró mar 

domingo, 14 de maio de 2023

Da Literatura

         "A literatura foi para mim um instinto de defesa. Como dizia Pavese, a literatura é uma defesa contra as ofensas da vida. E é também uma forma de vingança."

Javier Cercas, entrevista de José Riço Direitinho, Ípsilon, 12 de Maio de 2023.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Rádio: Vidro Azul!

       Há quanto tempo ouço esta voz feminina a dizer-me de forma sussurrada ao ouvido: “Vidro Azul, duas horas de viagem, neste e noutro tempo, por paisagens de sombra e nevoeiro, um programa de Ricardo Mariano”? É muito realista, simples até, abrir o computador e soltar a mente para ouvir um programa de rádio quando nos dá na real gana. E, certamente, neste mergulhamos convictamente de que estaremos ali connosco e em silêncio, curiosos, a descobrir músicas, canções e temas que farão parte da nossa vida muito em breve, não fosse este “Vidro Azul” um círio no meio da escuridão que promove e faz culto e atenção da música nova que se vai fazendo por esse mundo fora. Agradecido, pois claro!

terça-feira, 9 de maio de 2023

Maio, Marítimo, Maio

     

Fotografia de Frederico Rocha
   Entramos no mês de Maio, vida e obra das flores, dizem. O tempo continua nublado, invernoso, imperturbável no seu cinzento operante, tão presente na inibição dos corpos e das energias. No entanto, no mar açoriano esta é a época em que vemos cruzar conjuntos de baleias azuis, não fossem estas os maiores animais existentes nas funduras do Atlântico. Os biólogos marinhos asseveram que a riqueza alimentícia do fundo do mar e as quantidades de krill são usados pelos cetáceos enquanto “estações de serviço”, fazendo com que estes se abasteçam de alimento, antes de rumarem até próximo dos calotes polares. Quem já presenciou esta passagem, no mais pequeno fogacho que fosse, soube apreciar tamanho acontecimento e júbilo visual, captando e guardando para si imagens nunca vistas. Por esta altura, os Açores voltam a ser a porta de entrada no continente europeu para milhares de velejadores e temerários do mar. As marinas ficam ocupadas de todo o tipo de iates, veleiros, navios, cruzeiros ou outro tipo de embarcações em circulação. Por aqui passam exemplares dignos de figurar na arte da construção naval, para lá das réplicas de embarcações de séculos anteriores que usufruem da Primavera para se lançar na navegação. Os marinheiros ou iatistas aproveitam a sua estadia para fixar pinturas das suas bandeiras nos passeios ou paredões, gozam também de tempo útil para conhecer os habitantes locais e relatar as suas façanhas e aventuras, ou, de forma natural, vazar o gin, o vinho ou a cerveja local. Há ainda muitos navios-escola carregados de juventude que encontra nas viagens marítimas espaço de aprendizagem, ciência ou terapia…ou, por muito que exista este cinismo contemporâneo, a esperança no futuro, como o caso do afamado veleiro “Três Hombres”, que a cada passo retorna para servir de modelo em registos do comércio justo, mantendo-se, assim, fiel ao transporte de mercadorias com o sabor do vento e das velas. E, por isso, apetece tanto cantar como os “The Waterboys”: “That was the River/ This is the sea!"

Maio

O quinto mês do ano deve o seu nome à deusa da terra e das flores, Maia, filha de Atlas. 
in Dicionário do nome das coisas e outros epónimos, Orlando Neves, Editorial Notícias.

domingo, 7 de maio de 2023

Obrigado, Alberto Gomes da Silva (1937-2023)


 

Poemas de Hanna Arendt

(Poemas 1924-1961)
Edições Relicárioedicoes.com
 

Da Proximidade

        "Antes de pensarem ir muito longe, reparem no que está à vossa porta. Muitas vezes ignoramos o que está próximo e saltamos para dentro de um avião para ir para fora do país. Olhem para Portugal e vejam que sítios bonitos têm aqui para visitar. E se forem mesmo viajar, considerem fazê-lo de uma maneira diferente: apanhar um ferry ou um comboio."

Phoebe Smith, in Fugas, Público, 6 de Maio de 2023. 

A Exceção e a Regra de Bertolt Brecht

 

sábado, 6 de maio de 2023

Elegia de Jorge Luis Borges

 Oh el destino el de Borges,
haver navegado por los diversos mares del mundo
o por el único e solitario mar de nombres diversos,
haber sido una parte de Edimburgo, de Zurich, de las dos
                         Córdobas
de Colombia e de Texas,
haber regressado, al cabo de cambiantes generaciones, 
a las antiguas tierras de su estirpe,
a Andalucia, a Portugal y a aquellos condados 
donde el sajón guerreó con el danés e mezclaron sus sangres,
haber envejecido en tantos espejos,
haber buscado en vano la mirada de mármol de las estatuas,
haber examinado litografías, enciclopedias, atlas,
haber visto las cosas que ven los hombres, 
la muerte, el torpe amanecer, la llanura
y las delicadas estrellas,
y no haber visto nada o casí nada 

in Obra Poética, 2, Alianza Editorial, Buenos Aires, 1997.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Eterno Retorno de António Cunha Ribeiro

Outros verdes outras águas
alguns medos na paisagem
o côncavo das mãos frias
 
só a luminosa memória
perdura como o voo da ave
em seu eterno cais de espera

in “Nem Sempre a Saudade Chora”, Antologia da Poesia Açoriana sobre a Emigração, Letras Lavadas, 2020.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Da Educação Ambiental

Açoriano Oriental - Os açorianos já desenvolveram uma consciência ambiental que garanta mais respeito pelos recursos naturais e aposta na reciclagem?

 Teófilo Braga: Infelizmente não, a esmagadora maioria dos açorianos não tem quaisquer preocupações com a conservação da natureza e com a proteção do ambiente em termos globais. Como razões principais apontava o desinvestimento por parte dos governos na educação ambiental e alguma desinformação por parte de pretensos educadores que depois é expandida através da comunicação social e das redes sociais. Além disso, muitas famílias passam por dificuldades em termos económicos de modo que os seus esforços são dirigidos para a sobrevivência em termos materiais: habitação e alimentação, etc. É muito triste vermos o número de pobres ou de pessoas em risco de pobreza, mesmo entre os que exercem uma profissão, é muito elevado. Por último, é um erro que penso que é propositado praticamente só se falar em reciclagem, quando a aposta devia ser na redução. O melhor resíduo não é o reciclável, mas sim o que não é produzido.

Teófilo Braga in Açoriano Oriental, 30 de Abril de 2023.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Projeto 432 Hz: A Frequência Perfeita!

Projeto 432 Hz no
CAC
Arquipélago
          Há cerca de um ano, mais ou menos por esta altura, e, após uma conversa de Gianna de Toni e Mónica Reis, um grupo alargado de pessoas pôs mãos à obra na realização e preparação de um espectáculo intitulado Projeto 432 Hz. Tendo por tema o mar, essa porção de água salgada de grandes dimensões, o resultado final foi apresentado este último fim de semana no Centro de Artes Contemporâneas, Arquipélago, primeiro numa sessão para as escolas e depois aberto ao público em geral, que correspondeu em massa e com muitas palmas. 
           O  Projeto 432 Hz pretendeu realizar em palco essa mistura de várias artes com a ciência, contando na música: Raquel Faria (harpa); Margarida Custódio (violino); Júlia Silva (violino); Matilde Rodrigues (viola); Pedro Raposo (violoncelo), André Gonçalves (contrabaixo); Diogo Bouça (piano); Andreia Sousa (ocean drum) e James Kirst (sintetizador e vinil); na poesia (pela voz de João Malaquias), no desenho (pela mão de Ivo Baptista), na projecção de vídeo (com Katarina Rodrigues, Sara Rodrigues e Roberto Amado) - para além da recolha de imagens da Futurismo e Best Spot, nos sons da Cornell University, em Nova Iorque, sendo a supervisão científica da bióloga, Andreia Sousa. 
            Ao longo de quarenta e cinco minutos, mergulhamos na música e imagens projectadas na tela da blackbox, imersos em sons de animais marinhos que dialogam com músicos espalhados pela sala ou sentados em puffs ou junto dos seus instrumentos, tendo sempre  com referência essa massa líquida e a vida que a compõe. Um momento de grande intensidade corresponde à reunião efectuada através do piano (Diogo Bouça) e a harpa (Raquel Faria), ambos de branco e descalços, com uma composição que remeteu de imediato para o mundo onírico dos fundos marinhos, um escape em mar aberto tocado de forma delicada, numa harmonia de forte sentimento e expressividade.
          Em suma, um espectáculo que pode muito bem circular pelo arquipélago ou mesmo ser dado a conhecer em salas de concertos do continente português, mostrando, assim, a beleza do mar profundo açoriano, acompanhada por estes criativos que ousaram combinar ciência e arte ao longo de um ano de profunda invenção e dedicação, sem esquecer a crítica ao antropocentrismo existente e que nos é tão útil e necessária.