Lembro-me de quando Agosto encerrava, quando este mês cumpria o derradeiro dia, os meus olhos humedeciam. Não sei precisar em
que altura é que isto aconteceu mas sei que já possuía a consciência de que a
felicidade tinha prazo de duração. A felicidade terminava no instante em que
deixávamos de ouvir a palavra Agosto pronunciada amiúde em todos os lugares aí
frequentados: na praia, na esplanada, no quiosque, no café, nas conversas entre
amigos. Os últimos dias de Agosto eram vividos com tal intensidade que ninguém
se lembrava das horas para almoçar ou jantar e o regresso a casa era feito
quando o sol se despedia. O último dia de Agosto era o verdadeiro sinal de que
todos nós morríamos um pouco, não que o verão findasse ali, mas porque de um
momento para o outro tudo se esvaziava, o silêncio impunha-se de forma cruel e violenta, e já não sabíamos o que fazer quando
Setembro entrasse de rompante. Recordo, também, um primeiro dia de Setembro em que a praia se
encontrava deserta e por isso não quis olhar o mar, cerrei os olhos e voltei de imediato para casa.
Esperava-me um calendário que ainda não tinha sido alterado e assim permaneceu
até ao ano seguinte.
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