quinta-feira, 30 de maio de 2024

segunda-feira, 20 de maio de 2024

A Loucura de Hölderlin

       
        "A filosofia nasce no momento em que alguns homens se dão conta de já não poderem sentir-se parte de um povo, de que um povo como esse ao qual os poetas criam poder dirigir-se não existe ou se tornou qualquer coisa de estranho ou hostil. A filosofia é, antes de mais, esse exílio de um homem entre os homens, esse ser estrangeiro na cidade em que acontece ao filósofo viver e na qual, no entanto, continua a morar, apostrofando obstinadamente um povo ausente. A figura de Sócrates traz a expressão este paradoxo da condição filosófica tornou-se tão estranho ao seu povo que este o condena à morte; mas ao aceitar a condenação, ele adere ainda ao seu povo, como aquele que ele expulsou irrevogavelmente de si."

Giorgio Agambem in a Loucura de Si, Crónica de  uma Vida Habitante (1806-1843), Edições 70, Trad. Miguel Serras Pereira.

Dia 23 de Maio, na Magma

 

Da Estupidez

 A estupidez não é invencível 
Bertolt Brecht

sábado, 18 de maio de 2024

Música para Corações Autónomos

 -Glory Box - Dummy, 1996 - Portishead
-Naveguei (onde os outros vão) - Naveguei (onde os outros vão), 2023 MaZela
-Todo o Amor do Mundo Não Foi Suficiente - Três Minutos Antes da Maré Encher, 2006 - Naifa
- Let it Ride - Return, 1988 - Shed Seven
- Shrin - Night fall over Kortedala, 2007 - Jens Lekman
-Do You Want to - You Could Have It So Much Better, 2005 - Franz Ferdinand
-Get Better - The Logic of Chance, 2010 - Dans Le Sac Vs Scroobius
-Bicycle- Seek Magic, 2009 - Memorie Tapes
- Eu não Vou Chorar - Eu Não Vou Chorar(Acústico), 2023 - Romeu Bairos
-Livre Arbítrio - Híbrido, 2015 - Alo Halloween
-Valha-nos Zeca - Cisma, 2021 - WE SEA
-Pico dos Bodes - Música para Miradouros, 2024 - PMDS
-Mulher do Fim do Mundo - A Mulher do Fim do Mundo, 2015 - Elza Soares
-Insubmissa - Poente e Outras Paisagens, 2018 - Maira Baldaia
-Vapor Barato - Gal Costa, 1971- Gal Costa

terça-feira, 14 de maio de 2024

PMDS: Belvedere Sonoro!

Os PMDS apresentaram no passado sábado, dia 11, Música para Miradouros, no Estúdio 13, em Ponta Delgada. À entrada, a preço módico, estava à venda o CD, Processor Modulation Density Sequencer, álbum debutante de 2011 e também nove exemplares do novo disco que sairá no dia 22 de Maio, com a chancela da Marca Pistola. Os músicos açorianos, Filipe Caetano e Pedro Sousa, entretanto, possuem em carteira mais dois álbuns, Not Yet, 2019, e Caloura, 2021.
PMDS ao vivo no Estúdio 13
Fotografia: Your Dance Insane 
Desta vez, a dupla micaelense esculpiu uma viagem sonora em torno destes panoramas insulares, autênticos belvederes atlânticos povoados de policromia marítimo-florestal. Na verdade, quatro anos imersos no boletim meteorológico arquipelágico, auscultando ventos e mares, incorporando ambientes e atmosferas da frequência paisagista. Com uma projeção de vídeo a situar cada paisagem, o concerto foi marcado pelo diálogo dos músicos  em palco, gesticulando e comunicando visualmente as sonoridades em marcha. Entretanto, as imagens vão revelando os diferentes pontos da ilha de São Miguel em que foram criados estes registos: Pico dos Bodes, Sete Cidades, Vale das Lombadas e Castelo Branco. Quem entrou no embalo sonoro deu por conquistado a entrada neste território electrónico deambulante.
       À saída deste périplo sonoro insular, quem estivesse disponível financeiramente podia também adquirir o duplo vinil que consagra, para além destes registos sonoros, os videoclipes produzidos pela produtora local Cactus bem como os postais dos locais assinados pelo artista visual, Diogo Sousa, autor das imagens. Quem é que não aprecia uma boa banda sonora num mirante?

Das Casas

 "Uma casa morre, se não é habitada com amor."
                                                                                                                  Mia Couto

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Tremor: já se prepara a edição de 2025!

        Os bilhetes para a edição do Tremor de 2025 já se encontram disponíveis. O Festival mudou, é certo. Perdeu o seu carácter familiar, mas ganhou em dimensão e diversidade. Aguardemos, pacientemente, pelo seu equilíbrio e reajustamento. Recorde-se, assim, dois grandes momentos que aconteceram neste ano ao ar livre, tais como foram os casos de Sam the Kid com os Mc´s locais em pleno porto de Rabo de Peixe, culminando os rappers e público em uníssono a homenagear Sandro J,  nesse seu celebérrimo hino: “Esta vida não era para mim, eu não vou chorar”. Outro acontecimento alto decorreu no Jardim António Borges, aquando da atuação do Som Sim Zero junto da Phicus Macrophilia, uma figueira australiana, que tem tanto de centenária como de imponente, patente nas suas raízes expostas e larga vegetação exposta. Desta feita, músicos, poetas, improvisadores e associações de inclusão social colaboraram nesta agremiação sonora de encher o peito e a alma no coração de um festival que premeia quem assiste surpreendido a cada nova apresentação.  E... que voltem com mais e melhor música na edição do ano que vem.

sábado, 11 de maio de 2024

Música para um Maio Laborioso e Florido

-Ala - Henosis, 2019 - Joep Bewing
-By This River - Before And After Science, 1977- Brian Eno
-De Cara a la pared - La Llorona, 2010 - Lhasa de Sela
-London Calling - London Calling, 1979 -The Clash
-Maio Maduro Maio - Venham Mais Cinco, 1973 - Zeca Afonso
-There is Power in the Union Talking About Poetry with Taxman, 1987-Billy Brag
-Black Dog/White Horse - Postindustrial Hometown Blues, 2024 - Big Special
-Searching For - On the Quiet, 2017 - Xinobi
-Berimbau - Red Hot & Rio 2, 2011- Mayra Andrade
-I fall in love too easily - Chet Baker Sings, 1956 - Chet Baker

quinta-feira, 9 de maio de 2024

A Vida do Caracol

 A vida do caracol
É uma vida arrastada
Anda com a casa às costas
Onde quer faz a morada.
 
Caracol, caracol tu pensas
Que sempre vais escapar,
Mas qualquer dia é de noite
Por certo vais-te enganar.
 
O caracol é velhaco
Só sabe é praticar o mal.
De noite vai-me ao tabaco
E às couves do quintal.
 
Eu já vi um caracol
A subir uma parede,
Ao depois veio o sol
Caiu morto de sede.
 
Caracol, caracol tu pensas
Que sempre vais escapar,
Mas qualquer dia é de noite
Por certo vais-te enganar.
 

Carlinhos Medeiros, in "Cantar N´a M´incomoda".

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Abril Continua?

Abril não é o mês mais cruel, como dizia T.S. Elliot. Bem pelo contrário, é o melhor. Pelo menos para nós. Também mistura memórias e desejos, como dizia o original. Mas não faz germinar lilases: aqui, Abril é anuncio de jacarandás. E dos cravos.
           Começa segunda-feira. Seguir-se um ano durante qual tudo se dirá, da cruel verdade ao cómico dislate. Seminários, livros, programas de televisão, filmes, romarias, investigações e evocações, nada faltará. Se forem poucas as liturgias e raros os reflexos condicionados, talvez dentro de um ano, saibamos mais sobre nós próprios.
       Talvez sejamos capazes de perceber melhor por que razões a ditadura durou tanto tempo, por que motivos os portugueses deixaram que assim acontecesse. Ou antes, por que não foram capazes de melhor resistir e mais combater. Talvez sejamos capazes de saber melhor por que os portugueses ainda são mais desiguais, pobres, analfabetos e resignados do que outros na Europa. E pode também ser que venham mais argumentos que nos permitam compreender melhor as razões pelas quais, no grande continente que é a Europa, este povo pequeno, pobre e marginal resistiu, sobreviveu e insistiu na sua independência.
         Se o meio centenário de Abril não for simplesmente, mesmo em nome da liberdade, a consagração dos actuais interesses, o respeito pela vassalagem e um festival de vingança e de intolerância, talvez as festas tenham valido a pena. Abril não merece louvaminhas, muito menos represálias e desforras. Abril merece liberdade, tolerância e inteligência.

António Barreto, in Público, 30 de Março de 2024.