A miúda mergulhava sobre vagas e
vagas alterosas, imitando com esfalfados gestos os golfinhos, permanentemente
inquieta e a perguntar, a indagar insistentemente, a desejar saber mais e mais
sobre a surpreendente ocupação laboral do mergulhador mais próximo em praia
deserta naquele mar de Outono, a oriente de um arquipélago no meio do
atlântico. Pergunta, miúda, pergunta, não deixes nunca de perguntar. Ela
interroga, ela ambiciona saber e, provavelmente, ela quer entender aquele
adulto mergulhador com trejeitos e tiques de adolescente que anda pela vida de
um lado para o outro, ao sabor do vento e do mar, a caminhar entre Herodes e
Pilatos, aguardando ansiosamente por ser atendido, à espera que alguém o
considere em silêncio, que alguém o escute na sua demorada prece, na eterna
expectativa que alguém solucione o seu problema. Não resolve, pois claro.
Compreendes, miúda, não compreendes, pois não? Separam-vos três décadas num
país à beira mar plantado e a ti hipotecaram futuro e o dele, é o que se sabe,
mas não se deve nem pode infundir de amargura e pessimismo ao vosso presente.
Nadaram ambos acima das vossas possibilidades, muita acima dessas vagas
económicas que vos cobrem e vos atiram pela areia fora, num redemoinho que vos
expele e expurga cada gotícula de esperança num mundo por vir, mas ainda há,
malgrado, outras ondas ainda maiores como as da Nazaré que hão-de certamente
resolver o vosso dilema do destino, algo que vos faça acreditar nos amanhãs que
cantam para lá da dívida e dos cortes num país sob protectorado. Ficar ou
partir? Não sabemos nunca. Ainda que se pressinta que com uma década de vida
estás no caminho favorável, miúda, essa fina curiosidade que não se cansa de
avançar e, que de tão permanente ajuda tanto a progredir noutros pontos do
planeta e, quem sabe, com a ajuda dela, também tu, consigas um dia partir e
atingir a tão almejada prosperidade e bem-estar afastada daqui. Correr mundo.
Quanto ao mergulhador que, já tinha idade para ter juízo, retomará o seu
pequeno gesto de responder ao absurdo quotidiano que lhe calhou viver ou
simplesmente ao desejo de entrar…no mar de Outono.
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