Didi adora posar para o seu amigo
fotógrafo e encher as páginas do seu “book” com fotografias arrojadas, de
grande pendor sensual, a roçar o erotismo. As fotografias trazem sempre o cabelo
ondulado e doirado de Didi e uma parte dele estende-se sobre o seu corpo
delgado e fino, pontuado de linhas e curvas bem esclarecidas, acentuando a sua
pele bem tratada, ainda que alguma rugas faciais denunciem já a passagem de
Didi dos trinta e muitos, obrigando-a assim a alguns constrangimentos
alimentares e ao cuidado exagerado com as combinações das roupas e dos seus
vestidos com o tom de pele, apostando na delicadeza e suavidade das cores do
baton nos lábios e as tonalidades certas de pó de arroz sobre as maçãs do rosto
esgalgadas. O propósito de Didi é muito simples e eficaz. Didi quer muito que
todos reparem nela e que cada vez que passe pelos representantes do sexo
masculino, estes se dêem conta do que ela traz vestido e que a mirem de alto a
baixo, como se de uma princesa inacessível se expusesse ali perante os seus
lânguidos e lascivos olhares. O cuidado de Didi quando posa é tal que ela
respira fundo quando ouve o click do
seu amigo fotógrafo, em parte porque gosta de dar sinal do dever cumprido. O
amigo fotógrafo de Didi também não deixa que nada lhe escape e, se vê que Didi
está fora do plano, trata imediatamente de a admoestar ou avisar. E quer sempre
muito que tudo fique como deve ficar, isto é, como ela aspira, para mais tarde
recordar. A desventura de Didi é não poder usar todos os dias os seus óculos
Paco Rabane, pois preenchem-lhe a cara mais do que é costume. O sol do lugar
onde vive não ajuda e a invernia prolonga-se quase até à chegada do verão. Numa
das fotos sensuais e audaciosas de Didi, ela está deitada sobre a areia numa
praia deserta, com o mar ao fundo completamente desnudada ao cair da tarde, com
o sol e a luz a desaparecer, sempre com o seu sorriso cândido e escondido, não
tirando nunca os seus colares de mini bolinhas doiradas que se prolongam pelas
costas. É impossível não pensar que Didi queira muito ser desejada pelo sexo
oposto e que em parte o consegue dado que são muito poucos ou nenhuns que
conseguem permanecer indiferentes à sensualidade do seu olhar doce e indolente.
Falta saber se Didi quer ser amada pelos que vêem aquelas fotos no silêncio dos
seus computadores, nos iphones da última geração, ou se ela gostaria que todas
as noites alguém lhe narrasse estórias simples e verdadeiras, ou apenas alguém
lhe desferisse o conto do bandido? Nunca
saberemos, Didi, certamente que não. Por
ora, é isso o que o olhar de Didi revela ainda que se apresente tão difuso, tão
aéreo, porquanto tão sensual, não se sabendo ao certo se no momento da
fotografia Didi está a olhar para o flash ou se para o público que passa
naquele momento em que o seu amigo tira as fotografias. Didi sorri muito sem
ser propriamente um sorriso inoportuno ou desproporcionado. Ela sabe que o
resultado final nunca desilude, daí se expor tanto, chega mesmo a mostrar-se de
todas as formas e feitios, pois sabe que quanto mais pose tiver mais a sua imagem se
alastra sobre todos os lugares onde ecoa o seu nome. Didi demonstra ser livre
enquanto posa e essa liberdade ninguém a tira. Uma das fotos que deu mais prazer a Didi e que ela narra a toda
a gente ser a sua cara é aquela em que ela está em cima de um zebra completamente
inclinada sobre o animal atenuando a leveza do seu peso sobre o seu dorso ao
mesmo tempo que lhe afaga a crina. Didi, na verdade, adora posar ainda que
todos saibamos que essa sua pose não tem fim, hora, dia, mês ou estação, pois
alimenta-se de um oxigénio inesgotável. Didi tem consciência disso. Didi apenas
desejaria posar. Cada vez mais.
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