domingo, 24 de novembro de 2013

Didi adora posar...


     Didi adora posar para o seu amigo fotógrafo e encher as páginas do seu “book” com fotografias arrojadas, de grande pendor sensual, a roçar o  erotismo. As fotografias trazem sempre o cabelo ondulado e doirado de Didi e uma parte dele estende-se sobre o seu corpo delgado e fino, pontuado de linhas e curvas bem esclarecidas, acentuando a sua pele bem tratada, ainda que alguma rugas faciais denunciem já a passagem de Didi dos trinta e muitos, obrigando-a assim a alguns constrangimentos alimentares e ao cuidado exagerado com as combinações das roupas e dos seus vestidos com o tom de pele, apostando na delicadeza e suavidade das cores do baton nos lábios e as tonalidades certas de pó de arroz sobre as maçãs do rosto esgalgadas. O propósito de Didi é muito simples e eficaz. Didi quer muito que todos reparem nela e que cada vez que passe pelos representantes do sexo masculino, estes se dêem conta do que ela traz vestido e que a mirem de alto a baixo, como se de uma princesa inacessível se expusesse ali perante os seus lânguidos e lascivos olhares. O cuidado de Didi quando posa é tal que ela respira fundo quando ouve o click do seu amigo fotógrafo, em parte porque gosta de dar sinal do dever cumprido. O amigo fotógrafo de Didi também não deixa que nada lhe escape e, se vê que Didi está fora do plano, trata imediatamente de a admoestar ou avisar. E quer sempre muito que tudo fique como deve ficar, isto é, como ela aspira, para mais tarde recordar. A desventura de Didi é não poder usar todos os dias os seus óculos Paco Rabane, pois preenchem-lhe a cara mais do que é costume. O sol do lugar onde vive não ajuda e a invernia prolonga-se quase até à chegada do verão. Numa das fotos sensuais e audaciosas de Didi, ela está deitada sobre a areia numa praia deserta, com o mar ao fundo completamente desnudada ao cair da tarde, com o sol e a luz a desaparecer, sempre com o seu sorriso cândido e escondido, não tirando nunca os seus colares de mini bolinhas doiradas que se prolongam pelas costas. É impossível não pensar que Didi queira muito ser desejada pelo sexo oposto e que em parte o consegue dado que são muito poucos ou nenhuns que conseguem permanecer indiferentes à sensualidade do seu olhar doce e indolente. Falta saber se Didi quer ser amada pelos que vêem aquelas fotos no silêncio dos seus computadores, nos iphones da última geração, ou se ela gostaria que todas as noites alguém lhe narrasse estórias simples e verdadeiras, ou apenas alguém lhe desferisse o conto do bandido?  Nunca saberemos, Didi, certamente que não.  Por ora, é isso o que o olhar de Didi revela ainda que se apresente tão difuso, tão aéreo, porquanto tão sensual, não se sabendo ao certo se no momento da fotografia Didi está a olhar para o flash ou se para o público que passa naquele momento em que o seu amigo tira as fotografias. Didi sorri muito sem ser propriamente um sorriso inoportuno ou desproporcionado. Ela sabe que o resultado final nunca desilude, daí se expor tanto, chega  mesmo a mostrar-se de todas as formas e feitios, pois sabe que quanto mais pose tiver mais a sua imagem se alastra sobre todos os lugares onde ecoa o seu nome. Didi demonstra ser livre enquanto posa e essa liberdade ninguém a tira. Uma das fotos que  deu mais prazer a Didi e que ela narra a toda a gente ser a sua cara é aquela em que ela está em cima de um zebra completamente inclinada sobre o animal atenuando a leveza do seu peso sobre o seu dorso ao mesmo tempo que lhe afaga a crina. Didi, na verdade, adora posar ainda que todos saibamos que essa sua pose não tem fim, hora, dia, mês ou estação, pois alimenta-se de um oxigénio inesgotável. Didi tem consciência disso. Didi apenas desejaria posar. Cada vez mais.

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