sábado, 15 de fevereiro de 2014

Invocações

hoje
os naufrágios nas gavetas
tomam o ritmo dos dias
na neblina de seu seio
a nudez e a luz
confundem-se nas camadas
do agnosticismo natural das coisas

(deus não é eterno

 por detrás das colinas do medo)

a distância
sobejando as trevas
feitas da prata e dos teus ossos
numa escura condensação
de ecos
e silêncios

germina-se ou derrama-se
o interior das coisas
conforme o sangue
ou as lágrimas
quando se adia o silêncio ofegante
das consequências
invocamos casas
melodiosamente desconhecidas
nas esquinas
quando surgem teus olhos
tua voz
inteiros concretos palpáveis
e juntos rompemos as palavras
das extensas narrativas do tempo

Leonardo Sousa in “há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida”, Letras Lavadas, 2013.

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