Por
onde anda a nuvem nómada? Da janela é fácil avistar o halo da hélice em aflição
e neste atlântico veio o espraiar da largueza deste olhar que consente a
lonjura e a desmesura deste oceano. Este movente pássaro transporta
um ser a levitar de uma ilha a outra e é como se remetesse um dolente fardo, um
aéreo corpo em fuga, magoado, estendido, confinado à sua existência de assento
e de passageiro em trânsito. Um cagarro apavorado e à deriva. Atento unicamente
à luz e ao seu arco proveniente da janela onde o carregado da cor do mar e do
celeste céu é suficiente para afinar as agulhas da melancolia encoberta. Sem
horas de sono, a imaginação tende a derreter e a discorrer sobre os minutos,
os segundos, o tempo veloz e o ar rarefeito, contraído, para daqui a pouco regressar ao
horizontal leito em dormência acelerada. Desligar o lastro de fogo e lume dessa
boémia estada, ainda que ilustrada, é agora caminho lento que se percorre até
aos motivos de um promissor presente. No fim da viagem é na curva descrição da asa, em plena queda, que
se instala a ambicionada fadiga e daqui
de cima se abraça a aproximação à pista deslocando por momentos o devaneio de um quarto ao
fundo, um lugar interior para repousar a cabeça e poisar o ombro, enfim pernoitar.
Beneficiar por instantes do ampliado desenho na aterragem é já um contentamento
atmosférico. Já não adianta conjecturar ilusões sobre o fundo do mar ou
fantasiar com os barcos a afastarem-se ao longe. De súbito, estrear no vidro o
toque da nómada nuvem a conflituar com o vento na descida. Medo. E já nem a advertência do sonho chega
com a queda de água oriunda desse céu coberto de nuvens negras, por sinal
sedentárias, que obrigam a acordar. A despedida da nuvem nómada.
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