“Tu és a pessoa indicada para a realização de um guia à volta do
arquipélago.”- declarou a chefe de redacção alagada de salamaleques
identitários quando ouviu falar na diminuição de pessoal no jornal e uma
adquirida reestruturação do quadro da redacção do diário. Eu pensei rapidamente
que aquela era uma forma subtil de me dizer qual era o caminho mais fácil para
a desocupação laboral. Num breve instante passaram-me pela cabeça todos os
artigos e reportagens que tinha escrito para aquele diário em dez anos de
jornalista com carteira profissional para além das noites que passei naquela
minúscula sala a escrever como um vagabundo, sem rota nem destino, a
acrescentar o álcool vertido e o odor do tabaco colado à roupa, andrajos que no
regresso a casa iam directamente para a vetustíssima máquina de lavar. “Quanto tempo é que precisas para realizar
tal tarefa?”- Repetiu de forma contundente a senhora redactora e de mim
apenas saiu um esgar de cansaço e um sorriso furtivo e sem alma. Era garantido
que uma visita ao arquipélago açoriano era, no imediato, o que se me afigurava
no horizonte em perspectiva.
Fotografia de Tânia Santos |
A minha interrogação, no entanto,
crescia a cada momento pois não parava de indagar sobre o que é que eu sabia
sobre as nove ilhas açorianas deixadas a meio do oceano atlântico por um antigo
império ultramarino? Outra questão era o que é que a senhora redactora terá
visto em mim para me escolher como organizador de um guia turístico para sair em
breve com o jornal, ao mesmo tempo que me retirava das funções de sempre, da
rotina a que estava habituado há tanto, tanto tempo. Desliguei o computador, saí
da redacção do jornal e indaguei qual seria a agência de viagens mais próxima,
precisaria entretanto de saber o preço das viagens já que com a contenção tudo
me seria pedido nos próximos dias. Numa primeira instância precisava digerir o anúncio
do despedimento ou afastamento das minhas funções de jornalista durante algum
tempo. Daí ter procurado o café mais próximo para ler o jornal concorrente e
pensar no que me estava a acontecer. Não era grave. Pensava em todos os amigos
que tinha tido das diferentes ilhas durante o período da Universidade e numa
viagem em tempos longevos a quatro ilhas integrado numa comitiva de jovens
estudantes de Biologia nos idos anos noventa.
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